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Crítica “O Ébrio” – #52FilmsByWomen

o ébrio gilda abreuO Ébrio (1946)
Duração: 2h
Direção: Gilda de Abreu
Roteiristas: Gilda de Abreu, adaptação da peça de Vicente Celestino
Elenco: Vicente Celestino, Alic Archambeau, Rodolfo Arena, Victor Drummond
Trilha Sonora: Vicente Celestino
Direção de fotografia: A. P. Castro
Edição: A. P. Castro

Jovem do interior, com grande talento para a música e boa situação financeira, Gilberto Silva se vê totalmente despossuído quando seu pai perde a fazenda. Sem o apoio dos parentes, o rapaz migra para a cidade grande, perambulando pelas ruas, até que, desesperado, ao entrar numa igreja, o padre ouve os seus pedidos de ajuda e convida-o a viver no anexo da sacristia. O religioso incentiva-o a procurar um emprego e, também, a explorar as suas habilidades artísticas. O grande sonho de Gilberto, porém, é entrar para a faculdade de medicina. Ainda assim, ele acaba se inscrevendo para um programa de calouros da rádio.

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No ano de 1946 a Cinédia, produtora de filmes cariocas, lançou nos cinemas brasileiro o primeiro filme da, até então atriz Gilda de Abreu. Em O Ébrio, baseado no texto – peça de teatro – de seu marido, Vicente Celestino, foi o maior sucesso da empresa. O esposo de Gilda de Abreu, cantor de sucesso da época, interpreta o protagonista do filme.

Gilberto Silva (Celestino) é um andarilho. Sua família, no interior era proprietária de uma fazenda, mas seu pai fale e o deixa sem recursos. Gilberto abandona seus estudos na faculdade de medicina e vai para cidade em busca de uma vida melhor. Desprezado por seus familiares, se torna um andarilho, até o momento em que é acolhido pelo padre Simão (Vitor Drummond) que o ajuda a encontrar um emprego.

O jovem, compõe uma música “Porta Aberta” e a apresenta na rádio local conquistando assim sucesso. Com essa projeção artística ele consegue dinheiro e conclui seus estudos em medicina. Ao ser empregado em um hospital, conhece sua esposa, Marieta (Alice Archambeau) concluindo assim grandes melhorias em sua vida. Porém, a ganância de sua esposa a leva a fazer as escolhas erradas e arriscar seu relacionamento. Os mesmos familiares que o desprezaram antes, de maneira oportunista, se aproveitam de suas posses e bondade o levando a decadência moral e financeira. Abandonado por sua esposa, pobre e deprimido. Gilberto “se afoga” nas bebidas, tornando-se “O Ébrio” que dá título ao filme.

O Ébrio Vicente Celestino

Restaurado nos anos 1990, o filme ganhou cenas adicionais dos musicais, incluindo a sequência final, no bar, na qual Gilberto canta a música homônima ao título do filme. Foi também, adicionado, a essa versão a cena na qual o pedido de casamento é feito por meio de uma caixa de presente. Com narração em off  foco apenas nas mão da protagonista que conduzem o olhar do espectador aos elementos que integram a caixa e complementam o texto verbal. A cena, inexistente no corte de cinema (com cerca de 1h20min), é expressiva e inovadora para época. Podemos observar também que, além do narrador, há em diversas cenas o diálogo das personagens consigo – ou com sua consciência.

Outro destaque é para a câmera que permanece “imóvel”, como uma filmagem de teatro, fazendo com que as personagens entrem e saiam da cena e não sejam seguidos como é comum no cinema moderno. Outro ponto é a dramaticidade das interpretações, características do gênero melodrama. As personagens femininas, principalmente, tem as falas demarcadas por entonações exageradas (como se em torno delas girassem muitas emoções) e as masculinas são sóbrias e por vezes rígidas (reforçando a ideia do homem como ser decidido, direto).

Mas, não só da seriedade esse filme é composto. Há nele uma variação de alívios cômicos, por meio dos cacoetes nas personalidades da família do ébrio. Os diálogos entre seus tios, ou as posturas deles com o médico, reduzem no drama os efeitos das maldades cometidas por eles. Os interesseiros parentes, são maus, ao preferirem a morte do médico, para assim se apossarem de seu dinheiro. Porém, são engraçados o bastante para acreditarmos que de tão idiotas, não conseguirão levar seu plano ao fim.

O Ébrio, foi um filme que envelheceu com os anos, mas é importante para conhecermos mais a história de Gilda de Abreu. Ela superou as adversidades da falta de confiança dos colegas de trabalho, quase acabou com seu relacionamento, mas mesmo assim, produziu um dos filmes mais bem falados do cinema brasileiro.

Nota: 3/5

Assista aqui ao trailer:

 

Yasmine Evaristo

Artista visual, desenhista, eterna estudante. Feita de mau humor, memes e pelos de gatos, ama zumbis, filmes do Tarantino e bacon. Devota da santíssima Trindade Tarkovski-Kubrick-Lynch, sempre é corrompida por qualquer filme trash ou do Nicolas Cage.

3 comentários sobre “Crítica “O Ébrio” – #52FilmsByWomen

  • Amo filmes antigos e ainda não conhecia esse, gosto dessa ideia de misturar o drama com um pouco de humor mesmo sem intenção. Triste a vida do ébrio que desistiu dos estudos foi rejeitado pela família depois deu a volta por cima mas caiu de novo devido a ganancia da esposa e dos familiares. Eu diria que isso acontece muito ate hoje, infelizmente.

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    • Já havia assistido esse filme há alguns anos, quando trabalhei em vídeo locadora. Revi esse ano para um debate em sala de aula, em uma disciplina sobre cinema.

      Foi uma ótima experiência, por poder descobrir mais sobre a diretora e sobre seu trabalho. E, trazer um assunto tão contemporâneo, como a ganância/interesse pelo financeiro, prova que algumas (péssimas) escolhas, são feitas pela humanidade há muito tempo.

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  • Não mentirei dizendo que já assisti ou até mesmo ouvi falar sobre o filme, afinal, confesso que não sou grande amante do cinema (quanto mais nacional). Aqui, o que me chama atenção é Gilda de Abreu, fiquei curiosa pra saber até que ponto ela conseguiu chegar seja como atriz ou produtora e porque não. Me peguei querendo saber mais sobre as questões familiares dela também.

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