O Cemitério das Almas Perdidas | Crítica
Com cada filme lançado, Rodrigo Aragão cada vez mais se mostra como o maior expoente do gênero horror no cinema nacional deste século. Acompanhar seus lançamentos, desde os modestos e inventivos curta-metragens (“Peixe Podre”; “Chupa-Cabras”), até os cada vez mais elaborados longas,(“A Noite do Chupa-Cabras”, “Mangue Negro”, “ Mar Negro” e “A Mata Negra”,além da coletânea “As Fábulas Negras”). É notório que as obras nunca buscaram copiar uma linguagem em específico, embora fizesse sempre uma leitura acertada de elementos das fórmulas ou clichês estadunidenses.
Aragão, que sempre introduz em suas criações elementos do folclore, dos mitos e das lendas brasileiras, o faz novamente em “O Cemitério das Almas Perdidas”, seu mais novo lançamento. Aqui, o mote se faz em torno do O Livro de São Cipriano, obra mistificada ao longo dos séculos que seria uma espécie de “manual”de simpatias, pequenos feitiços, e também trabalhos, invocações e maldições.
Na trama, um padre jesuíta enlouquece como que tomado pelo poder enorme do livro, que é uasado para salvá-lo e a outros viajantes de tempestades no mar em troca de sacríficios de sangue. Logo que aportam no Brasil, o grupo liderado pelo corrompido padre (Renato Chocair) realiza um verdadeiro massacre contra uma tribo indígena, até que de alguma forma ficam eternamente presos a um cemitério local. Outro núcleo, acompanha um grupo de artistas circenses, numa bela homenagem ao Zé do Caixão.
No subtexto, o filme acerta mais do que outros do gênero no país, ao retratar um conflito entre um jovem negro e uma garora indígena contra um inimigo que tem a face do colonizador, embora existam tropeços na representação da cultura de povos originários. E tempos onde se questiona o valor de tropos do Cinema americano como o “cemitério indígena”, diria que nossa ascenção do terror brazuca já está com dois passos adiantados, falta apenas parar e olhar em volta por uns instantes.
O Cemitério das Almas Perdidas
Ano:2020
Brasil
Direção:Rodrigo Aragão
Roteiro:Rodrigo Aragão
Produção:Mayra Alarcón, Rodrigo Aragão
Elenco:Allana Lopes, Caio Macedo, Renato Chocair, Diego Garcias, Clarissa Pinheiro, Markus Konká, Carol Aragão, Roberto Rowntree, Thelma Lopes, Francisco Gaspar
