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Crítica – Mães de verdade

Tendo sido um destaque da programação da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2020, “Mães de Verdade” chega aos cinemas logo após a semana do dia das mães no Brasil. O novo filme da competente diretora japonesa Naomi Kawase (“Esplendor”, “O Sabor da Vida”) se vale da tradição do melodrama para contar uma história na qual a honra e as pressões sociais são o pano de fundo para discutir as consequencias sociais da adoção de uma criança em especial dentro do contexto da sociedade japonesa, mas com pontos que tornam a identificação global bastante possível.

O filme conta duas histórias que colidem na maternidade. Enquanto Sakoto e Kiyokazu Kurihara ansiosamente desejam um filho e escolhem o caminho da adoção, a jovem Hikari Katakura tem de lidar com o peso de uma gravidez indesejada na adolescência, encarando sozinha o afetivo da entrega de seu filho e os julgamentos de uma sociedade que a culpa a todo momento.

Ainda que o filme se estenda e complique a história mais do que o necessário com subtramas que parecem pouco contribuir para a trama, a montagem e a direção caminham de forma consciente nessa direção, estandendo o sofrimento da personagem para construir empatia. Com uma percepção forte do Japão, país em que a questão da honradez é um dos pilares históricos e sociais, a diretora preenche o filmes de comentários sociais sobre a imposição do papel de mãe e a cumpabilização do prazer sexual.

Também assinando o roteiro, ao lado de Izumi Takahashi, Naomi Kawase se esforça para dar bastante ênfase aos tabus sociais presentes neste processo dos dois lados. Se por um lado a infertilidade de Kiyokazu, por exemplo, é sinônimo de humilhação masculina, por outro a sofrida trajetória de Hikari e seus encontros sucessivos com outras mulheres em situação de fragilidade mostra como é para uma jovem enfrentar os estigmas ainda presnetes na cultura. Os exemplos de machismo não faltam como na explicita cena onde uma candidata à adoção é exigida a abandonar a carreira profissional para cuidar do filho, ou no contraste entre a vida de Hikari e a de seu antigo namorado, que segue a vida como se nada tivesse acontecido.

Como um filme que se foca em grande medida nas relações que envolvem nascimentos, logo na metade do filme o tema da morte também se anuncia. Felizmente, numa reviravolta competente e condizente com o espirito do filme, o final não descamba para o uso barato de outro tema comum na cultura japonesa: o triste grande volume de suicídios entre jovens. Ao se equilibrar sempre na balança do do piegas, temos felizmente a cinematografia que é bela e encanta, com um cuidado e uma poética que demonstram estilo, permitindo até mesmo um pouco de esperança no mundo agridoce que nos é apresentado.

Mães de verdade – 2020
País: Japão
Direção: Naomi Kawase
Duração: 140 minutos

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