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Galeria Futuro | Crítica

Pode até ser que as pessoas não acordem pensando nisso todas as manhãs, mas sempre que você olhara para a sua cidade com atenção verá que as coisas sempre estão mudando. “Galeria Futuro“, longa dirigido por Fernando Sanches e Afonso Poyart mostra de forma divertida e transloucada como essa mudança pode ser violenta.

Na trama, acompanhamos Valentim (Marcelo Serrado), Kodak (Otavio Muller) e Eddie (Ailton Graça), três amigos que se conhecem desde de pequenos e são lojistas da Galeria Futuro, um centro comercial em Copacabana que ostentava luxo e pompa em seu passado, e que hoje, não passa de um lugar triste e decadente. Cheios de dívidas e prestes a falir, a administração da galeria é surpreendida por uma proposta milionária de um Pastor, que quer transformar o espaço em uma Igreja Evangélica.

Os três amigos ficam destruídos com a possibilidade de perder a tão amada Galeria Futuro mas, a sorte deles muda quando acham um baú cheio de uma substância alucinógena dos anos 70, capaz de realizar os desejos mais insanos de quem a consome. Contando com a ajuda de Paula (Luciana Paes), uma recém chegada lojista, eles vão criar um plano mirabolante e surreal para tentar salvar a Galeria e impedir sua venda.

Futuro, pessoas e memória

Embora trate de uma galeria no Rio, essa história caberia a todas as grandes cidades do Brasil. Hoje tomadas por shoppings, antes o reinado era o das galerias. Que hoje lutam para continuarem existindo. A tristeza do fim não não é que elas tenham em si algo de especial, mas porque guardam uma história enorme que envolve as pessoas que ali fizeram suas vidas.

Da mesma forma, e de modo curioso, o filme espelha essa situação. O roteiro, escrito por Bia Crespo é funcionam e acertam principalmente ao fazer do absurdo parte da narrativa, mas o brilho está no elenco. A diferença entre as velhas galerias e os novos mercados não é o concreto ou o aço que os fazem, mas a humanidade que ainda resta na estrutura dos negócios.

Assim, o filme deixa os atores livres para o improviso, para os exageros e os pitacos aqui e ali. Como você pode ver nas entrevistas que a equipe concedeu ao longo da divulgação da produção. Além disso, o amor por esse passado perdido está presente o tempo todo. A escolha das profissões do protagonistas é perfeita: as lojas são uma locadora, uma loja de truques de mágica e de fotografia analógica. Resta ainda a crítica em tom de piada, com a personagem de Paes como uma subcelebridade vinda de um reality.

Muitas vezes, o humor vem desse tom deslocado no tempo. Mais do que isso, nos convida a também nos deslocar no tempo, aceitando a lisergia da produção. A montagem e a trilha sonora também são competentes em perceber isso. Em todo tempo se aproveitando do tom bobo para extrair risadas e rir de si mesmas. As referências a“Esqueceram de Mim” e “Kill Bill – Volume 1” são um tempero à parte.

E vale?

No cinema nacional, em geral repetimos certos chavões irrefletidos. “Filme de comédia” é tratado como bobagem enlatada e até quando um desses filmes faz um grande sucesso, logo é esquecido.

“Galeria Futuro” brinca com isso, talvez até sem perceber, permitindo-se ser exatamente o que é: uma produção divertida, que vai tocar os afetos de uma geração. Primeiramente, sem pretender mais nada, acerta. E depois, se vocẽ preferir o que será construído por cima dela, vida que segue. É uma boa mensagem, afinal.

Veja o trailer.

Galeria Futuro

Ficha Técnica

Galeria Futuro
2021 -Brasil

Direção de Afonso Poyart e Fernando Sanches

Elenco: Ailton Graça, Lciana Paes, Marcelo Serrado, Otávio Muller

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