Crítica | “Espírito Jovem”

Por Pérola Krissia

“Espírito Jovem” é o primeiro longa dirigido e roteirizado por Max Minghella.  Teve sua estreia mundial no Toronto Internacional Film Festival em 2018 e é lançado agora nos cinemas brasileiros. Dos mesmos produtores de “La La Land”, com Elle Fanning no papel principal de Violet,  cantando sucessos do pop, como “Dancing on my own” de Robyn, “Tattooed Heart” de Ariana Grande e “Lights” de Ellie Goulding,  além de canções pop originais como “Wildflowers” de Carly Rae Jepsen. Com a trama a la Cinderella, “Espírito Jovem“, busca transmitir, a percepção de Violet,  da vida em suas escolhas e ações, através da música e na busca de seu maior sonho de tornar-se uma cantora profissional e ser reconhecida por isso.

Violet (Elle Fanning) é uma adolescente de 17 anos, introspectiva que vive com sua mãe, Marla (Agnieszka Grochowska), na Ilha de Wight. Ela divide seu tempo entre os trabalhos na fazenda, ir à escola e trabalhar como garçonete. Seus únicos amigos são um velho iPod e seu cavalo e a única coisa que faz com prazer é cantar em um karaokê em um bar à beira da estrada, a contragosto de sua mãe. Lá conhece Vladimir Brajkovic (Zlatko Buric),  um tipo estranho, beberrão, cantor de ópera aposentado, que reconhece seu talento. Violet vê sua rotina mudar quando, a competição televisiva de cantores,  Teen Spirit, chega pela primeira vez na pequena ilha, para seleções. Contra possibilidades e com a ajuda de Vladimir, Violet seguirá adiante seu sonho de entrar na competição e se manter firme diante a repentina fama, novos amigos e sua própria ambição.

Mesmo com uma trama sem originalidade, o longa consegue fisgar a atenção do expectador ao abraçar uma narrativa sob a perspetiva de Violet sobre os acontecimentos. Tudo parece um sonho. E visualmente isso é muito bem trabalhado. Violet é o centro das atenções, sua figura sempre está ao centro nos enquadramentos, e close-ups. Mesmo quando não está em cena, tudo gira em torno dela. Outro ponto que contribui a narrativa, e ajuda ao espetador a entrar em sua perspetiva, são as sequências em que Violet escolhe as músicas em seu iPod, planos de cortes rápidos em que as canções passam para primeiro plano, harmonizando a história. E a música é a chave. As canções pops, tanto as versões originais quanto as corvers, dão dinamismo e coerência as reações de Violet. Como quando canta em um  campo aberto para seu cavalo. Ou quando dança livremente em seu quarto, ao som de “Just a girl” do No Doubt, a música toma o lugar de fala. Na bela sequência em que canta “Dancing on my own“, é dado um novo significado a canção. A de não ser “escolhida” para nada na vida, de estar sempre sozinha, sempre vendo a vida dançar com outras pessoas. E ela quer ser escolhida.

Elle Fanning, desempenha um bom trabalho vocal, e representa uma Violet um pouco apática, inexperiente e com desejos a serem despertados. Violet vive na inércia de uma vida movida por sua mãe, que busca a redenção, por uma falha familiar, através da religião e do trabalho duro. Zlatko Buric, está a vontade em cena e cumpre seu papel de mentor e possível figura paterna a Violet. Rebecca Hall, representa Jules, a super produtora que está sempre a procura de algo novo.  O roteiro peca um pouco a não dar um desenvolvimento maior a relação de entre Violet e Vladimir, os momentos de ensinamento ficam presos as frases clichês de “respire” e “cante com o coração”. Outra falta está em não desenvolver bem os “rivais”, já que há  uma competição. E isso deixa o filme sem conflitos e os que aparecem são facilmente solucionados ou pior, esquecidos.

O artifício da iluminação neon, muitos tons roxo, rosa e explosões de azul e vermelho, nos colocam a par das emoções. Minghella demonstra um bom controle de movimento e espaço. Mas ainda precisa tomar um certo cuidado no excesso de estilização. Algumas sequências se tornam grandes vídeos clipes e pode cansar o expectador. Muito de sua construção se assemelha a “Flashdance” de 1983, principalmente em sua conclusão.

Com acertos e erros, Espírito Jovem é um filme vibrante e divertido que consegue emocionar e manter o interesse. Um verdadeiro good vibes movie.

Avaliação: 3 de 5

Trailer Oficial:

Ficha Técnica: