Crítica “Em Busca de Fellini”
Em Busca de Fellini (In Search of Fellini, 2017)
Diretor: Taron Lexton
Roteiristas: Nancy Cartwright, Peter Kjenaas
Elenco: Maria Bello, Ksenia Solo, David O’Donnell
As mudanças da vida provocam medo, e no caso de Lucy (Ksenia Solo), esse medo vem acompanhado da inocência e desconhecimento do que realmente é o mundo. Criada sonha pela mãe, Claire (Maria Belo), a jovem Lucy é uma sonhadora. Sua mãe a condicionou a viver em uma bolha, com o intuito de a proteger. O que ela consegue, na verdade é criar a filha imersa no mundo das maravilhas, onde nada pode dar errado.
O contato com o cinema altera a percepção de vida de uma pessoa simples, assim a história do filme “Em Busca de Fellini” é desenvolvida. Em busca de um trabalho, Lucy se depara com uma mostra de filmes do diretor Federico Fellini e, então passa a se interessar por aquele homem que diz muito sobre o que ela é (e quer ser).
Como a personagem de “A Estrada da Vida” (La strada, 1954), a protagonista de Em Busca de Fellini possui uma inocência tão grande que chega a ser inacreditável. Aproveitando essas similaridades, o diretor emula no filme elementos pelos quais Gersomina (Giulieta Massina) passa. até a roupa que Lucy usa durante sua viagem à Itália é a mesma camisa listrada da personagem de Fellini.
O filme é simples e pautado na transição da juventude para a vida adulta. No sair do ninho, ou do casulo. Romper o vínculo físico entre mãe e filha, mas mantê-lo forte na relação afetiva – observem a cena na qual ao tomar o café da manhã, a moça pede um capuccino a mais e coloca a foto da mãe apoiada na xícara.
O filme foi feito para homenagear o diretor italiano e, funciona também como maneira de despertar a curiosidade do espectador que não conhece a sua obra. As personagens de seus filmes estão dispostas na tela o tempo inteiro. Para quem já está familiarizado com Fellini, não é difícil rememorar a cena da Silvia de Anita Ekberg na Fontana Di Trevi ou das festas, cheias de pessoas “bebendofalandocomendo”.
Suave e tocante como uma comédia romanceada se propõe, o filme é como uma fábula. Com características de Alice no País das Maravilhas, na qual podemos acompanhar a vida onírica da moça que parte atrás de seu ídolo, a narrativa deixa tênue o limite entre o real e o fictício. No visual, optaram pelos uso tons quentes em momentos de realização, dos tons de azul em casa, delimitando uma certa melancolia e do dia como horário das coisas se resolverem e da noite como horário do perigo.
Não espere dar sentido aos fatos ou tentar entender o que ela pensa, sente, sonha e vive. A experiência deve vir do vínculo que se cria com o que aquelas pessoas representam pra você e não pela sua necessidade de entender uma história dentro de uma linearidade exata. Afinal, assim era o cinema de Fellini, sonhador.
Nota: 3,5/5
Veja o trailer aqui: