Crítica do Filme “Nieve Negra”
Um clima frio e solitário guarda o segredo de uma família, marcada pela morte precoce de um dos filhos. O novo filme de suspense, com o astro argentino Ricardo Darín (“Elefante Branco”, ‘Segredo dos Seus Olhos’) oscila entre o tempo presente e os flashbacks recriando aos poucos o drama da família diante da morte do caçula, provocada por seu irmão Salvador (Darín). Com a morte do pai, Marcos (Leonardo Sbaraglia, de “Relatos Selvagens”) e sua esposa Laura (Laia Costa) vão à Patagônia em busca de Salvador, para que esse aceite a venda da propriedade da família para uma mineradora canadense e, também, para depositar as cinzas de seu pai junto ao túmulo do finado filho.
O diretor Martin Hodara (diretor-assistente de “Nove Rainhas”) cria tensão a cada momento que leva e traz o espectador a tempos diferentes, nos entregando aos poucos partes do segredo compartilhado pelos irmãos. Salvador se encontra isolado de todos há cerca de 30 anos e Marcos sabe o quanto esse encontro será difícil. A atriz Dolores Fonzi, completa o grupo familiar, interpretando Sabrina, a irmã que se encontra internada em uma clínica psiquiátrica.
A sensação de isolamento provocada pela constante nevasca e pelos tons brancos azulados e acinzentados do ambiente no qual a trama é desenvolvida, acentuam o tom de segredo que temos na narrativa. Assim, a ideia de que a qualquer momento pode ocorrer algo que mude drasticamente o percurso da história, mantém o clima proposto nesse suspense.
O reencontro dos irmãos, revela dores há tempos silenciadas e assim vemos, ao passar do tempo, as múltiplas faces de cada personagem sendo reveladas por meio de suas dores, medos e desejos. As situações extremas desestabilizam a todos e cada passo dado é a oportunidade de uma descoberta nova que amarra gradativamente a trama. O espectador se encontra na mesma posição que Laura, desconhecendo as verdades existentes no passado daquelas pessoas, montando suas ideias do que pode ter acontecido a medida que coleta informações e observa o comportamento de suas companhias.
Em seu primeiro longa-metragem, Martin Hodara consegue transmitir a sensação proposta pelo roteiro de claustrofobia e dúvida, sendo bem-sucedido na escolha da locação e das maneiras que escolheu para retratá-la. Os planos abertos mostrando a grade quantidade de neve, pontuada por árvores, ou uma pequena cabana; o plongèe nas cenas da estrada, que remetem a sequências de “O Iluminado”, 1980, do diretor Stanley Kubrick; e o silêncio misturado ao vento ou a uma trilha instrumental, delimitando algum acontecimento importante, complementam e viabilizam a imersão no clima do filme.
Temos então uma amostra de que há dores que jamais morrerão e a cada dia passado, fará novas vítimas. Um suspense psicológico mesclado com dramas familiares para ser visto e sentido.
Nota: 3,5/5
Imagens – IMDB: http://www.imdb.com/title/tt5614612/mediaindex?ref_=tt_pv_mi_sm