Crítica do Filme “Lucky”
Depois de fumar por muito mais tempo que todos os seus conterrâneos, o velho ateu Lucky (Harry Dean Stanton), de 90 anos, está no fim de seus dias, apenas esperando a morte. Vivendo em uma cidade no deserto, ele inicia sua última atividade antes de partir: se autoexplorar para enfim encontrar iluminação.
Lucky (Lucky, 2017)
Direção: John Carroll Lynch
Elenco: Harry Dean Stanton, David Lynch, Ron Livingston, Ed Begley Jr.
Lucky, personagem que da nome ao filme, 90 anos, todos os dias faz tudo igual: acorda cedo, escova os dentes, se penteia, passa um pano molhado pelo corpo para se limpar, bebe um copo de leite, pratica alguns exercícios de ioga antes de vestir sua roupa e chapéu de cowboy e sai de casa. Já na rua cumpre a rotina sistemática de tomar o café na lanchonete enquanto faz palavras cruzadas. Depois passa no mercado para comprar maços de cigarro e garrafas de leite. Em casa, assiste a programas de TVs e a noite encontra os amigos no bar para jogar conversa fora.
Mas, quando Lucky cai, acidentalmente, em sua cozinha sua rotina sistemática é abalada. Durante a consulta medica, ele recebe a notícia de não ter fraturado nenhum osso, de não ter sofrido nenhuma concussão, de estar com o coração em ótimo e, de não ter nenhuma sequela em seus pulmões mesmo fumando um maço de cigarros por dia. Quando questiona o medico o possível motivo de sua queda súbita obtém como reposta, do mesmo. que está velho demais. Após a consulta ele entre uma espécie de jornada rumo a autodescoberta na qual temas como moralidade, solidão, espiritualidade e conexão humana são abordados. Os poucos o cowboy turrão vai se mostrando mais frágil, mais vulnerável é mais sozinho.
O ator Harry Dean Stanton dá vida, de forma magistral ao personagem Lucky. É inevitável a emoção de ver a proximidade do ator – falecido em setembro deste ano, aos 91 anos – com o papel que interpreta. Eterno coadjuvante nas produções hollywoodianas, Stanton participou obras icônicas dos anos 1970 e 80, como “Alien: O Oitavo Passageiro”, “Fuga de Nova York”, “Repo Man: A Onda Punk” e “A Garota de Rosa Shocking”, no qual interpretou o pai da protagonista. Dirigido por John Carroll Lynch, o filme é mais uma homenagem ao ator do que qualquer outra coisa.
O diretor mesclou de forma inteligente drama e comedia, sempre equilibrando o drama vivido pelo personagem com nuances de humor e descontração. Uma das cenas de humor que vale ser destaca é quando o personagem Howard, interpretado pelo diretor David Linch, narrar com o seu jabuti (cujo nome é Presidente Roosevelt) fugiu de casa. Em outro momento, mas dramático, Howard descreve a solidão proporcionada pela ausência de seu animal. O jabuti Roosevelt não só ilustra a solidão do personagem com também a eminente morte de Lucky, já que ao contrario do animal Lucky no viverá até os 100 anos.
“Lucky” e uma obra de arte atemporal que mercê ser vista e apreciada. Os planos abertos são lindos, onde a cor laranja juntamente com a aridez do deserto fazem você refletir, trabalhando assim com sua memória. Há também uma quebrar da quarta parede emocionante na qual Harry Dean Stanton olha dentro da sua alma.
Nota: 5/5
Veja aqui o trailer: