Crítica do Filme “Blade Runner 2049”
Novo nível de excelência para as continuações
Sem rodeios: F I L M A Ç O ! ! ! Esqueça tudo o que considera como uma boa continuação, pois esse filme dá show e demonstra o que realmente pode ser a continuação de um filme de sucesso. O primeiro filme lançado em 1982 foi dirigido por Ridley Scott, um diretor de cinema que nutro carinho e admiração especial e gastaria várias laudas para defender sua importância. Fiquei na defensiva quando soube que a sequência seria dirigida por Denis Villeneuve, mas confesso que isso era mais devoção a Ridley Scott que propriamente um pensamento racional. E ainda bem, tive uma surpresa excelente.
Veja bem, não me encaixo como fã da franquia “Blade Runner”, apenas um admirador. Sempre me surpreendeu a atmosfera do primeiro filme, a profundidade que as imagens conseguem atingir e lembro bem que a medida que o assistia repetidamente, novas maneiras de entendê-lo nascia. Não serei bonzinho em dizer que você pode assistir “Blade Runner 2049”sem ter visto “Blade Runner” de 1982. Não ! Você tem OBRIGAÇÃO de assistir o primeiro filme! Tenha respeito pelo cinema! Você não faz ideia da dificuldade que é bancar 150 milhões de dólares para a continuação de um filme de mais de 20 anos que não teve o sucesso merecido na época do seu lançamento apenas sendo valorizado com o passar do tempo.
Ridley Scott se encarregou de produzir o filme e sabemos que nos moldes americanos o produtor é o verdadeiro dono do filme. Denis Villeneuve se manteve fiel ao original sem abrir mão de abordagem própria e fez um grande filme! Até agora não consigo acreditar nesse resultado. “2049” dá sequência a história do primeiro filme problematizando ainda mais a relação dos homens com as máquinas. Os robôs do futuro, denominados de ‘replicantes’, possuem tantas peculiaridades que atingem o nível de abstração humana. No futuro que nos apresenta os replicantes conseguiram captar a condição humana e se apropriam dela. Eles ‘começam’ a entender o sentido da existência e estão inseridos na sociedade apenas cumprindo suas funções, de servidores do homem, mas a revolta contra esse sistema é iminente. O mundo continua um ambiente hostil. No filme, as cidades do nosso tempo são inabitáveis e consideradas de um passado distante. Contudo, aquela sociedade que é o futuro, continua sombria, fria, fragmentada e violenta. E o interessante é justamente ser isso uma das coisas que tanto encanta quem ama esses filmes. Parece até que a tendência destrutiva do homem é mais forte que qualquer evolução moral que possa atingir.
Roy (Rutger Hauer) em cena emblemática de Blade Runner de 1982
As últimas cenas do primeiro Blade Runner onde Deckard (Harrison Ford) enfrenta o replicante Roy (Rutger Hauer) é simplesmente uma das cenas mais bonitas da história do cinema. Em embate final, Roy se apresenta a Deckard com uma pomba branca na mão e fala ser injusto tudo o que testemunhou da vida se perder com a morte. Perceba, ele é uma máquina!!! E fala isso com tanta dor e você percebe que ele não é o vilão em questão. Há tanta humanidade e vida na cena que fica difícil você não cair e dizer: que filme meu!
Entenda a grandiosidade de tudo isso. O personagem de Harrison Ford volta em “2049” não só para alegria dos fãs, mas porque existe todo um sentido. Ele está completamente envolvido no grande segredo que vai ser descoberto e no embate do homem consigo mesmo, pois provavelmente o grande vilão nunca tenha sido a inteligência artificial. O egocentrismo humano consegue transformar a máquina uma extensão do seu próprio corpo, inventando recursos, órgãos artificiais. Mas quando esse mundo novo cria singularidade desproporcional com a simplicidade humana, a coisa fica estranha. Para nós.
Tudo bem, você questiona: é apenas um filme! Mas veja bem a dependência que criamos com os celulares, com o mundo virtual. Existe um vazio dentro de nós que não conseguimos perceber?
Não tenho a menor vontade de responder, meu propósito é apenas te convencer a sair dessa suposta quietude e entrar para a grandiosidade que é “Blade Runner 2049”. Até onde consegui assistir nos inúmeros filmes de continuação, só testemunhei a simples continuidade da mesmíssima história, muitas vezes um olhar para o início de tudo ou até avanço no tempo, mas nunca percebi um corajoso desenvolvimento de trama. Me atrevo a dar uma quase exceção: a curta série “As Crônicas de Sarah Connor” (2009, Warner Bros) é a melhor continuação aos dois primeiros “Exterminador do Futuro” de James Cameron. Todos os outros filmes de Exterminadores são decepções, exageros e abordagens apressadas demais. Mas o bacana é que “2049”consegue sair do conforto do sucesso de seu antecessor e realmente desenvolve a história oferecendo elementos novos, mas que fazem você constatar que já estavam no primeiro filme.
Ridley Scott (Produtor) com Harrison Ford no set de filmagens de Blade Runner 2049
Entenda, no primeiro filme temos um caçador de replicantes que se depara com um novo tipo de replicante. Em “2049” temos as consequências que a existência desses replicantes e de um grande segredo (diria dois segredos, rsrs) podem causar para a humanidade. Isso é mostrado claramente, não fica no campo das ideias e possibilidades. E o engraçado é que não é nada arriscado, é na verdade emocionante pra caramba!
Todos os atores desse filme merecem aplausos para atuações consistentes, alguns com mais profundidade em pouco tempo de apresentação como por exemplo o personagem Sapper Morton do conhecido ator Dave Bautista, de Guardiões da Galáxia. Aliás, todos os replicantes e inteligências artificiais dão show.
Denis Villeneuve (Diretor) no set de filmagens de Blade Runner 2049
Tenho que destacar a presença de Robin Wright. Que mulher meu Deus! Ela é ‘A Atriz’ da série House of Cards (Netflix) mais emblemática dos últimos anos, capaz de dar absoluta aula de interpretação contida, sem caricaturas. Em “2049”ela tem um papel até simples se não fosse sua capacidade de criar camadas no personagem, mas o que realmente é bonito é ver ela apresentar uma dignidade sólida como aço, e o curioso é que seu personagem não é replicante! (até onde sabemos, rsrs). Não quero nem saber se você vai me xingar por não citar a interpretação dos bonitos Jared Leto e Ryan Gosling. Acredite e anote, Robin Wright também é o futuro!
Só sei lhe dizer uma coisa: quando o filme termina eu senti uma inveja imensa dos fãs de Blade Runner, porque eu queria todos os filmes nesse nível na franquia Alien. Ridley por favor, se atente! Mais Prometheus e menos Covenant!
Nota: 5,3 de 5 (Sim, isso mesmo)
Ainda não assisti esse filme, mas li muitas críticas positivas sobre ele. Tbm não assisti o primeiro, mas vou corrigir isso esse fim de semana e se der tbm vou no cinema assistir o novo.
Gostei de saber que essa continuação é tão boa quanto o primeiro filme (eu sempre fico com receio de assistir continuações pq sempre me decepciono)
Ri da nota que vc deu pro filme.
Camila, esse filme é incrível, não deixe de assisti-lo no cinema. Ele é tão bom que a nota não cabia no limite disponível, rsrsrs
Eu tentei ver o primeiro filme, mas acabei dormindo rs
Mas vou fazer mais uma tentativa, pq quero ver essa continuação.
Que bom que você gostou bastante! Parece que a história ficou muito boa!
Bjs