Crítica do Filme “Annabelle – A Criação do Mal”
O mal insiste em rodear a vida das pessoas simples e desavisadas, transformando a rotina delas em algo assustador e, desafiando sua sanidade em busca de uma resolução para seus problemas. Em uma casa cedida por uma família, que vive a dor da perda de uma filha, ainda na infância, este mal se encontra. Diante da candura das órfãs, em busca da garantia de um lar, o mistério que acama a esposa do dono da casa é algo letal que atingirá a todos que estão habitando aquele local. Este é o ambiente no qual “Annabelle 2: A Criação do Mal” (Annabelle: Creation, 2017) se passa. Sequência de “Annabelle” (Annabelle, 2014), este novo filme volta um pouco mais no tempo, para nos mostrar que a boneca vintage, portadora do mal, do primeiro filme, tem origem em uma família desestabilizada por uma perda trágica.
O casal Samuel e Esther Mullins (Miranda Otto e Anthony LaPaglia) vivem em sua bela residência, com sua única filha Bee (Samara Lee). Samuel é um artesão que fabrica bonecas em um anexo externo a sua casa. Em um dia comum, após a missa, a família precisa parar na estrada, para trocar um pneu e, nesse contexto, acontece o acidente que mata a garotinha. Doze anos depois, a noviça Irmã Charlotte (Stephanie Sigman) chega a casa dos Mulligans com seis garotas, para morar lá enquanto as mesmas não são adotadas. A chegada das novas moradoras, desestabilizam a rotina da casa e, alguns acontecimentos estranhos começam a acontecer com Janice (Thalita Bateman), uma das garotas, vítima da poliomelite, o que a torna mais frágil fisicamente.
Como ficou claro acima, temos diversos elementos para criar empatia no público em nossas personagens – a família afetada pela morte, crianças órfãs, pessoas religiosas, criança deficiente -, que funcionam. Esse excesso poderia desandar o filme, mas isso não acontece. Diferente do primeiro filme, no qual após passada a primeira metade dele, eu torcia para que a entidade na boneca matasse aquela família bocó, neste, de alguma maneira eu torcia para que as garotas conseguissem superar as situações pelas quais elas passaram.
Em contraponto, os elemento usados como recursos para criar os sustos foram muitos, facilitando a percepção de que o momento de se assustar aproximava. Cenas escuras, som que gradativamente aumenta, reflexos e vultos, o pacote comum dos filmes de terror, como já conhecemos. Por isso não me assustei tanto quanto gostaria, mas ainda assim, fiquei com o filme na cabeça pelo dia inteiro. Uma prova de que a atmosfera de suspense foi bem amarrada.
A imagem fixa da boneca aparecendo em diversos momentos, apenas ali, parada, ainda é mais assombrosa do que as personificações monstruosas que são dadas ao “demônio” no decorrer do longa metragem. Seja balançando na cadeira ou, ora olhando para a frente, ora olhando para o lado, a face distorcida de Annabelle, é incômoda e demarca a presença de algo oculto em busca do poder.
A trama foi desenvolvida de uma maneira que o fim desse filme se ligue ao início de seu sucessor, explicando algumas dúvidas que podem ter ficado sobre o porquê do mal habitar aquela boneca especificamente. Particularmente, isso não me interessava. Não acho relevante ter uma afirmação de onde o mal vem, para aproveitar a minha experiência cinematográfica, inclusive, essa necessidade de justificar a origem dos vilões ou das maldades, me soa como uma garantia de que tudo vai se resolver, o que essa linha de filmes esclarece que é algo de caráter dúbio, pois sem as precauções corretas, mantemos os “demônios” mais livres do que presos. Não é nada que atrapalhe o desenvolver do filme, apenas uma observação de que se ele fosse uma história a parte, sem a precisão da conexão, ainda assim ele funcionaria.
David F. Sandberg (diretor) e Gary Dauberman (roteirista) nos entregaram um ótimo suspense, que ficará assombrando vocês por algumas noites – e dias também. Que possamos nos livrar dos males que espreitam a cada passo, amém!