Crítica | Carcereiros – O Filme
Carcereiros – O Filme (Brasil, 2019)
Direção: José Eduardo Belmonte
Roteiro: Marçal Aquino, Dennison Ramalho, Marcelo Starobinas, Fernando Bonassi
Elenco: Kaysar Dadour, Rodrigo Lombardi, Jackson Antunes, Dan Stulbach
Sinopse: Adriano (Rodrigo Lombardi) é um carcereiro íntegro e avesso à violência, ele tenta garantir a tranquilidade no presídio, mesmo sofrendo com grandes dilemas familiares. A chegada de Abdel (Kaysar Dadour), um perigoso terrorista internacional, aumenta ainda mais a tensão no presídio, que já vive dias de terror por conta da luta entre duas facções criminosas. Agora, Adriano terá que enfrentar uma rebelião além de controlar todos os passos de Abdel. Inspirado no livro Carcereiros de Drauzio Varella, Carcereiros – O Filme traz a realidade dos homens que mesmo sem estarem presos, passam seus dias atrás das grades. (IMAGEM FILMES)
*escrito pelo colaborador Rafael Assis
“Carcereiros – O Filme”, herdeiro de uma bem sucedida série produzida e exibida pelo serviço de streaming Globoplay, encontra-se no vértice de alguns elementos que deveriam nortear seu produto final. Tratando-se de uma adaptação do livro homônimo de não-ficção de Drauzio Varella, espera-se um maior cuidado com a realidade, mas os expectadores mais recorrentes também podem esperar alguma referência a outra adaptação de sucesso de um livro do autor. Estes se frustrarão.
A produção apenas se vale do nome firme do livro que o originou, focando-se em tentar construir uma trama de ação exagerada e por vezes inverossímil. Acompanhamos Adriano, um carcereiro honesto que faz de tudo paramanter a paz no presídio em que trabalha. Com a chegada de Abdel, um perigoso terrorista internacional, as duas facções criminosas em guerra dentro de seus prédios se agitam e tudo parece prenunciar uma rebelião para executar o “gringo” e abalar as estruturas da hierarquia da prisão. Se esta premissa parece caber melhor num filme da série “Duro de Matar”, poderíamos ter aqui um respeitável respiro no cinema nacional com um bom blockbuster brazuca.
As estatísticas de público nos cinemas brasileiros demonstram que o gênero favorito das audiências tupiniquins é aquele que mistura aventura e ação. Apesar disso, quando se pensa em cinema nacional, são poucas as produções lembradas nesse nicho. A grande exceção é “Tropa de Elite” (2007) que valendo-se do cenário das favelas do Rio como um subgênero já conhecido, entregou um sucesso de público e crítica. E criou cartilha.
“Carcereiros – O Filme”, segue a cartilha mostrando que seu peso ainda não pode ser considerado desprezível. No conteúdo, encontramos a crítica ao sistema político brasileiro e a valorização da vida dura dos agentes de segurança que lutam contra o crime e contra o descaso do governo. Na forma, temos as narrações em off do personagem principal que simplificam o discurso que o filme pretende apresentar. Da obra de Varella, restam algumas tomadas de câmera que tentam nos mostrar a tristeza do desperdício de vidas perdidas, embora o próprio roteiro as faça descartáveis, seja pela maneira como as mortes acontecem ou pelas infindas reviravoltas absurdas que o filme nos reserva.
Com a fragilidade do texto, o refúgio poderia ser o elemento de ação, mas Belmonte tem problemas em usar o recurso de câmera na mão, criando tomadas confusas em que a geografia do cenário não fica claro e a iluminação – cortada lá pelas tantas do segundo ato – nos deixa mais confusos do que os personagens da trama.
Uma pena que o bom trabalho dos atores não seja aproveitado, em especial os dilemas dos prisioneiros, que a despeito do título e numa trágica repetição da realidade, são algozes e vítimas, desprezados e protagonistas.
Nota: 2,5/5