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Crítica “120 Batimentos Por Minuto”

120 batimentos por minuto Nahuel Pérez Biscayart120 Batimentos Por Minuto (120 Battements Per Minute, 2017)
Diretor: Robin Campillo
Roteirista: Robin Campillo
Elenco: Nahuel Pérez Biscayart, Arnaud Valois, Adèle Haenel, Antoine Reinarte
Trilha Sonora: Arnaud Rebotini
Fotografia: Jeanne Lapoirie
Edição: Robin Campillo

Membros de um grupo militante, lutam contra o desprezo do governo francês e das companhias farmacêuticas ao combate a epidemia de AIDS, em Paris, nos anos 1990.

Longa de Robin Campillo foi vencedor do prêmio de Grande Juri no Festival de Cannes e, também levou os prêmios de Melhor Filme pela crítica FRIPESCI e a Queer Palm, Melhor Filme LGBT, no Festival de Cannes.

Dados alarmantes apontavam que os índices de pessoas contaminadas pelo vírus HIV aumentavam no início de 1990. Pessoas preocupadas com a disseminação da doença, se organizavam em grupos em busca de melhorias àqueles que foram infectados. Essas organizações, se espalharam pelo mundo a medida que a AIDS também se espalhava. O filme 120 Batimentos Por Minuto, escrito e dirigido por Robin Campillo (Eles Voltaram, 2004) foca na rotina do grupo ACT UP Paris, que milita em prol da garantia de direitos da população infectada pelo vírus HIV. Focado na epidemia que aconteceu em Paris, nos anos 1990, somos apresentados as ações dessas pessoas.

Composto por soropositivos e voluntários que acreditam na causa, os componentes se reuniam uma vez por semana para discutir as demandas de suas atividades. Além dessas reuniões eles se dividiam em outro grupos focados em necessidades específicas, de acordo com as demandas, como ações políticas, estudos sobre avanços nas pesquisas farmacêuticas ou divulgações em escolas. O filme se passa nesses e em outros ambientes. O espectador tem a oportunidade de entender que aquelas pessoas são cidadão comuns, que incluem em suas atividades diárias a atuação nos ACT UP.

Inicialmente o filme foca em várias personagens que integram o grupo. Ele delimita as diversas pessoas que optam por participar daquilo em busca de informação ou suporte aos que precisam desse apoio. Temos ali, não apenas soropositivos gays, mas também lésbicas, soronegativos e uma mãe, que acompanha o filho recém infectado.

As manifestações feitas em busca de visibilidade são exemplificadas de sua concepção até sua execução. Há desde intervenções em farmaucêuticas, a debates em rede televisiva e/ou desfile na Gay Pride. O fato disso ser mostrado como uma espécie de passo-a-passo é importante para desmistificar que ações de grupos gays são apenas pautadas em festa. Ao se prepararem para os desfiles da Parada do Orgulho Gay as pautas discutidas visam conscientizar a população geral sobre os riscos da AIDS. Eles se preocupam com grupos específicos como imigrantes, prostitutas e viciados em drogas. Por mais que as festividades sejam demonstradas, a dor de quem vive aquela realidade é sempre explicitada.

Após o primeiro terço do filme, o foco passa a ser no casal sorodiscordante Sean e Nathan (respectivamente interpretados por Nahuel Pérez Biscayart e Arnaud Valois). Com isso temos um deslocamento que prejudica a narrativa do filme. O discurso que era feito por meio das várias realidades, passa a ser maior na dinâmica do casal. Com isso a sensação que surge é de que algumas histórias foram esquecidas por não serem mais desenvolvidas.

Não há motivo para desmerecer a história que nos é apresentada, mas permanece a sensação de que o que foi dito antes era apenas uma introdução longa do como ambos se conheceram e, não o relato dos atos e atuantes do grupo. Além desse detalhe, há algumas sequências que se delongam demais sejam visualmente ou nos atos de diálogo. Isso é algo que torna o filme por vezes monótono ao ponto de percebermos que o tempo parece não passar.

A iluminação e as cores são utilizadas de maneira a pautar na realidade o que acontece no longa. A medida que a trama e a doença evolui somos tomados pelo frio dos tons em cinza e azul. Aliás, posso destacar que toda sequência que traz relatos ou situações mais dolorosas, somos tomados pelas sombras. A trilha também é utilizada de maneira a compor esse clima. Ela chega a soar baixa para evidenciar os relatos, funcionando como complemento dos sons de fundo – sejam eles diálogos em off, ou o barulho de vento, água ou passos.

O filme é essencial, principalmente na atualidade já que observamos o aumento dos índices de DSTs e a dificuldade em discutir assuntos relacionados a sexualidade em escolas, ou mesmo em casa. Epidemias como esta são graves e afetam a todos, independente de serem portadores da doença ou não. 120 Batidas Por Minutos é a oportunidade que temos de perceber como ações descompromissadas e preconceituosas são responsáveis por inúmeras vítimas. Mais que a AIDS, o silêncio mata.

Nota: 3,5/5

Prêmios:
– Representante da França na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro
– Grade Prêmio do Júri – Festival de Cannes 2017
– Queer Palm – melhor Filme LGBT – Festival de Cannes 2017
– Melhor Filme – Prêmio da Crítica FRIPESCI – Festival de Cannes 2017
– François Chalais Prize – Festival de Cannes 2017
– Melhor Filmes – Festival de San Sebastian
– Melhor Filme Estrangeiro – Los Angeles Film Critics Association
– Melhor Filme Estrangeiro – New York Filme Ciritics Circle
– Melhor Filme Estrangeiro – San Francisco Film Critics Circle 2017
– Melhor Filme Estrangeiro – Washington DC Area Film Critics Association

Assista aqui ao trailer:

Yasmine Evaristo

Artista visual, desenhista, eterna estudante. Feita de mau humor, memes e pelos de gatos, ama zumbis, filmes do Tarantino e bacon. Devota da santíssima Trindade Tarkovski-Kubrick-Lynch, sempre é corrompida por qualquer filme trash ou do Nicolas Cage.

6 comentários sobre “Crítica “120 Batimentos Por Minuto”

  • O filme aborda um tema muito importante, a AIDS antigamente era considerada um bicho de sete cabeças. Hoje, graças aos avanços da Medicina, temos métodos para combater a doença e as pessoad estão mais conscientes a se prevenirem!

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    • Esse filme é uma aula sobre a epidemia dos anos 90. Recomendo a todos mesmo.

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  • Impactada com esse filme, que aliás aborda não só a AIDS como o preconceito vivido pelos portadores e também nos faz ver o quanto não falamos desse assunto tão importante. Muitas pessoa ainda lidam com esse assunto como um tabu e isso acaba contribuindo negativamente assim como mostra no filme e você apontou na resenha: o silêncio mata

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    • É muito tocante as relações de amizade que se formam entre os que são vítimas desse preconceito.
      Esse apontamento que o filme trás, sobre o silenciamento é importante. Com ele podemos refletir no tanto que podemos ser responsáveis pelo mal estar do outro, nas relações de convívio social.

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  • Uma pena que com esse descolamento de narrativa para o casal tenha gerado essa sensação de que as demais histórias já não eram tão importantes, e que a primeira metade do mesmo tenha servido como a introdução do filme. Sobre a parte da técnica, curto muito quando a produção sabe usar e abusar da fotografia, da estética. É bom saber que souberam usar este e o recurso musical para mostrar e aprofundar as emoções. Enfim, apesar dos pesares, parece ser um bom filme sobre um tema tão atual.

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    • É uma pena mesmo. Acho, mesmo após alguns meses que vi, que as outras histórias poderiam ser mais desenvolvidas mesmo.
      Mas isso não impediu o filme de ser uma análise importante das questões que envolvem a discriminação contra a população soropositiva.
      Os aspectos técnicos valorizaram vários pontos da narrativa (ainda estou encantada com o tratamento dado a única cena de sexo que tem no filme, linda demais).

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