Resenha | Coragem
Título: Coragem
Título Original: Brave
Autora: Rose McGowan
Tradução: Carolina Caires Coelho
Ano de Lançamento: março/2018
Páginas: 288
Editora: Harper Collins
Rose McGowan nasceu em um culto e o trocou por outro, mais visível: Hollywood.
Se tornou uma das atrizes mais desejadas de Hollywood da noite para o dia quando foi “descoberta” nas ruas de Los Angeles. O estrelato logo se tornou um pesadelo de exposição constante e sexualização. Hollywood esperava que Rose ficasse quieta e cooperasse. Em vez disso, ela se rebelou e impôs sua verdadeira identidade e voz.
Liderando o movimento de denúncias de assédio sexual na indústria de entretenimento ao expor os crimes de Harvey Weinstein, Rose é hoje um dos rostos do movimento feminista e não hesita ao disparar verdades inconvenientes e exigir mudanças. CORAGEM é seu livro de memórias em forma de manifesto.
Na contemporaneidade, cada vez menos a disseminação de preconceitos é aceita. As disparidades criadas por estruturas culturais, tidas como verdades absolutas, estão sendo rompidas e repensadas. Dentre essas estruturas a que é abordada em “Coragem” livro da atriz, cantora e fotógrafa, Rose McGowan, é o assédio contra as mulheres.
Conhecida por interpretar a personagem Paige Matthews na série televisiva “Jovens Bruxas” (Charmed, 1998-2006), a atriz passou por muito percalços na vida. Dentre eles o estupro, cometido pelo produtor de cinema Harvey Weinstein, denunciado por ela e por outras de suas vítimas.
Nascida e criada em uma seita, no interior da Itália, Rose desde cedo aprendeu que a culpa de tudo o que acontecesse de errado ao seu redor era culpa dela. Sua existência era condicionada a não pecar, não provocar o pecado nos homens e servir a eles, como objeto sexual e procriadora. Em seu relato sobre sua infância, a atriz relata abusos físicos e morais, como espancamentos e pedofilia.
Rose McGowan no set de filmagem de seu curta, “Dawn”, no ano de 2014. Fonte. IMDb
Após a fuga da seita, sua vida não se torna mais fácil. Viciada em drogas, depressiva, pulando de lar em lar, a jovem conhece o que ha de pior no mundo. E se vocês pensam que após a entrada em Hollywood as coisas melhoram, vocês estão errados. Diante do grande sistema – formador de opinião – do mundo cinematográfico, McGowan se depara com as múltiplas violências que um corpo feminino pode sofrer.
Em “Coragem” ela faz essa denúncia por meio do relato de situações que viveu. O livro é triste e permite que entendamos o quanto a mídia reforça esteriótipos femininos em busca de sucesso e se isenta da responsabilidade que tem na construção de preconceitos. A própria capa do livro demonstra uma das quebras da autora com os padrões seguidos. Ao raspar a sua cabeça ela se livra dos longos cabelos que, seus pais, produtores e namorados, diziam ser um traço de sua feminilidade.
De maneira intensa, sem “dourar a pílula”, Rose McGowan verbaliza sua dor e nos alerta sobre o tanto que a sociedade precisa mudar o tratamento que é dado a nós, mulheres.
