Resenhas

Resenha | Belas Maldições – Neil Gaiman e Terry Pratchett

E esse fim do mundo que nunca chega…

Quem viveu se lembra, como se deu a onda mileniarista dos anos 90. Antecipando a virada dos anos 2000, o cinema e a literatura se encheram de tramas que envolviam o fim do mundo, profecias e em especial, anjos. “Belas Maldições”, poderia ser apenas mais uma dessas obras, não fosse pelo talento dos autores que não só entenderam sua época a ponto de satiriza-la, como o fizeram antes de seu objeto se tornar o monstro que seria, uma sátira a frente do seu tempo, bem como seria de se esperar “d’As belas e precisas profecias de Agnes Nutter.

Escrito por Neil Gaiman e Terry Pratchett, a trama acompanha um demônio, Crowley, e um anjo, Aziraphale em sua tentativa de adiar, e se possível evitar o armageddon em curso, pois com o fim do mundo perderiam aquilo que mais amam: Cafés, o rock, sebos de livros e a única coisa que não admitem, a companhia um do outro. Nunca escrevi uma sinopse tão fácil de um livro, e nunca deixei de falar tanto sobre ele. Gaiman dispensa apresentações e é bem conhecido na américa por conta de “Sandman” e obras adaptadas como “Coraline”. Mas é o humor rápido e ácido de Pratchet que leva a profundidade erudita de Gaiman a outro patamar nessa obra, criando um conjunto muito simples de entender a bastante sofisticado ao se apreciar.

A história corre ziguezagueando por caminhos tortuosos de um plano divino inefável, ao qual o espectador ora se coloca adiante dos personagens, graças a revelações ágeis do texto, e ora se vê ansioso por suspenses pontais, sendo conduzido na leitura pelos descaminhos num jogo de gato errado entre a trama, os personagens, o leitor e os autores. Diversão pura!

O livro foi adaptado para o streaming contendo seis episódios. A série foi lançada em 31 de maio de 2019 no Amazon Prime Video

Cheio de situações insólitas, diálogos milimétricos, personagens carismáticos e um excelente senso de auto ridicularização, o livro abraça completamente o espirito do humor britânico popularizado no mundo por “Monty Python”, sem deixar de lado aspirações filosóficas e comentários sociais e históricos. O crítico literário Harold Bloom, ao tratar do fenômeno do miulaniarismo algumas vezes em seus livros, fala sobre o fenômeno religioso e social do fim do mundo e sua relação com anjos – em especial anjos caídos. Em “Presságios do milênio” o autor fala sobre os movimentos religiosos americanos dos anos 90 que aguardavam a segunda vinda de cristo e o estabelecimento do reino dos céus na terra.

Uma coisa curiosa é perceber que a ideia de um fim do mundo tal qual descrito no apocalipse é uma ideia recente para protestantes e católicos, e uma recuperação de tradições antigas que remetem ao zoroastrismo. A igreja católica, por séculos e a partir de Santo Agostinho, se centrava como parte do próprio milênio. Duvido que Bloom tenha lido Gaiman/Pratchett e o livro de Gaiman/Pratchett é anterior às reflexões de Bloom.  Mas é curioso como se relacionam nessa busca pelo paraíso que se pode ter na terra em oposição a ideia de um paraíso futuro e desconhecido. Não por pouco, na conclusão de Belas Maldições fique a pergunta no ar, se tudo o que acontece tem uma razão, afinal todo o percurso faz parte do plano divino.

Belas Maldições Good Omens Neil Gaiman Terry Prachett

Belas maldições

Título Original: Good Omens
Autores: Neil Gaiman e Terry Pratchett
Tradução: Fábio Fernandes
Lançamento: maio/2019
Páginas:364
Editora: Record/Bertrand Brasil

15 comentários sobre “Resenha | Belas Maldições – Neil Gaiman e Terry Pratchett

  • Bem, eu amo Neil Gaiman, não apenas por Sandman mas por outras obras que li dele. Mas achei a leitura de Belas maldições extremamente cansativa, acredito que pela casadinha com Pratchett. Eu já li o autor em outro momento e realmente não me encantei com sua escrita. O que ainda curti na trama foi a ideia do enredo em si, mas a condução da narrativa não me agradou como eu gostaria. Ainda pretendo ver a série. De qualquer, achei bacana conhecer suas conjecturas a respeito do livro.
    Tschüss 😘

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    • Fico muito feliz com o comentário. Na minha trajetória com o Gaiman eu senti o oposto que você… sempre o achei bastante profundo, porém sisudo. Assim pra mim o Pratchett deu um respiro bem vindo. Mas vou ler outras obras dele com sua visão em mente. Muito obrigado

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  • Ainda não li nada de Neil, os livros parece serem ótimos. Parabéns pela resenha, muito bem detalhada. A série está na minha lista.

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  • hahahahahahaha eu recordo bem da confusão na década de 90 pelo fim do mundo, foi uma época divertida. Neil Gaiman é um gênio com muito a oferecer, infelizmente, ainda não vi a série, mas está em minha meta para este ano, é difícil, às vezes, conciliar o tempo. Satirizar o fim do mundo dá pano pra manga.

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    • E esse fim do mundo nunca chega não é? Vale a pena ver essas fontes sobre a piração com anjos na década de noventa. Gaiman estava na vanguarda.

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  • Você é totalmente culpada, totalmente culpada de meu amor pelo Neil Gaiman, eu só conhecia Sandman por conta de meus irmãos e descobri no “Sentar e Observar” – que saudades! Que Gaiman não é só quadrinhos e foi com a leitura de Belas Maldições que fui totalmente arrebatada para esse mundo fantástico!
    Preciso reler esse livro, com essa maravilhosa resenha me deu mais vontade!
    Obrigada Mine 😉

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  • amo gaiman, li poucas obras mas todas que li nunca me decepcionei. belas maldições tenho o fisico mas quem leu foi meu amigo e ele amou, eu estou curiosa com a série que parece mega boa.

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  • Muito interessante os autores tornarem essa obra uma sátira a frente do tempo deles. É quase impossível falar dos anos 2000 e não se lembrar de teorias da conspiração como o Grande Bug do Milênio e entre outros temas e especulações sobre o fim do mundo que surgiram com a virada do século, e muitas se provaram infundadas rs. Eu ainda era muito criança ( tinha uns 4 anos, acho) pra me lembrar dos acontecimentos, mas estudei sobre quando maior. Super bacana a forma como Neil Gaiman e Terry Pratchett, trazem essa trama acompanhada de um demônio e um anjo, e exploram com humor ambos em sua tentativa de adiar ou caso possível evitar o armageddon em curso, já que com o fim do mundo perderiam aquilo que mais amam no mundo humano como livros, rock, Cafés e até a companhia um do outro, mesmo não admitindo, né?

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  • Nossa, realmente a virada dos anos 90 para o 2000 foi épica! Rsrs! E, olhem, preciso me colocar a ler Neil Gaiman! É sério! E trazer à tona, tanto na Literatura quanto em adaptações para as telas, essa temática, de forma irreverente, é instigante a qualquer um, principalmente a quem viveu esses momentos que ficaram marcados numa época. E, até agora, nada do mundo acabar, gente!

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  • Oi, tudo bem? Acho interessante quando alguma obra nos permite esse tipo de reflexão ainda mais quando determinado fato foi real e vivenciado por toda uma geração. Creio que quem viveu a transição dos anos 90 vai se identificar com o “fim do mundo”. Com todas as previsões acerca desse fenômeno. Ainda não assisti a série mas lembro que apareceu como indicação. Fiquei bem curiosa. Um abraço, Érika =^.^=

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    • Pode ver a série sem medo, é bastante divertida e muito fiel ao livro. É quase um roteiro, vale lembrar que o próprio Neil Gaiman encabeçou a produção.

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  • Adorei sua resenha, Rafael. Olha, vou te dizer que quando lançaram a série eu pensei em ler primeiro, mas não consegui esperar. E eu adorei! Gaiman já faz parte da minha vida de leitora então gostei muito dessa mudança pras telas. Esse ano ainda coloco a leitura em dia.

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    • Olha, eu recomendo viu. Pouca coisa difere da série, mas vale a pena se divertir uma segunda vez.

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  • Pingback: Biblioteca Gaiman - Neil Gaiman (vol. 1) | Resenha - Numa Fria

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