Livro: Contos Completos – Caio Fernando Abreu

Título : Contos Completos
Autor: Caio Fernando Abreu Páginas: 768
Lançamento: 2018
Editora: Companhia das Letras

Pela primeira vez, a reunião de todos os contos de um dos autores mais viscerais da contracultura brasileira.Publicados entre as décadas de 1970 e 1990, os contos de Caio Fernando Abreu são o retrato de uma geração. Os tempos autoritários e sombrios dos anos de chumbo aparecem nesta reunião não apenas como pano de fundo, mas como parte constituinte de uma prosa que se consagrou pelo estilo combativo e radical. Vida e obra, aqui, se misturam a ponto de biografia se transformar em literatura e vice-versa.Em Contos completos, o leitor tem a chance de percorrer toda a produção do autor no gênero da prosa breve. O volume abarca seis títulos ― Inventário do irremediável (1970), O ovo apunhalado (1975), Pedras de Calcutá (1977), Morangos mofados (1982), Os dragões não conhecem o paraíso (1988) e Ovelhas negras (1995) ―, além de dez contos avulsos, sendo três deles inéditos em livro. O livro inclui, por fim, textos de Italo Moriconi, Alexandre Vidal Porto e Heloisa Buarque de Hollanda, que jogam luz sobre a atualidade de Caio Fernando Abreu.Ao escrever sobre amor, morte, medo, sexualidade, solidão e alegria, o autor de Onde andará Dulce Veiga? constrói personagens complexos e absolutamente profundos em cada detalhe. Com verve e sensibilidade, o “escritor da paixão”, na alcunha de Lygia Fagundes Telles, soube como ninguém combinar delírio e lucidez, euforia e angústia, luz e sombra.

Visceral e de língua afiada Caio Fernando Abreu foi um autor que marcou uma geração. Sua produção contempla poesia e prosa. O jornalista e escritor, nascido no Rio Grande do Sul, escrevia de maneira direta e intensa sobre amor, medo, sexo, morte, e demais conflitos que podem caber dentro de um ser humano.

Seu olhar sobre a solidão e o desejo de completude, até hoje chama a atenção de quem se depara com sua obra. Na edição de Contos Completos os contos publicados entre 1970 e 1990 foram reunidos, pela primeira vez, em uma única obra. A edição proporciona ao leitor acompanhar o desenvolvimento da escrita do autor nessas duas décadas.

Vivendo em plena ditadura militar, o clima tenso e sombrio que pairava serviram de alimento para essa mente inquieta. A fragilidade e impotência que ele observava e sentia eram uma grande força em forma de palavras. Suas personagens transparecem o sentimento de não-pertencimento. São desajustados, melancólicos, machucados emocionalmente e se encontram em um mundo hostil.  

Perdeu-se dele logo após encontrá-lo, numa véspera de São João. Não sabia que ia perdê-lo,  não sabia sequer que iria encontrá-lo. Não sabia também na véspera – junho, São João. Mas foi assim que aconteceu.

(…) Agora ele esvazia lento o cinzeiro no cestinho indígena, enquanto observa a expressão da mulher  (…), e pensa que pensa ou deveria pensar ou é como se pensasse qualquer coisa assim: porque é desse jeito mesmo que as pessoas se comportam quando não decifram nos olhos do outro nenhuma promessa ou convite.

(trechos de “Saudade de Audrey Hepburn”, páginas 450 e 452)

Ao unir toda essa obra,  percebemos que há semelhanças entre os textos que os une de alguma maneira. Todas essas almas em busca de um lugar, de aceitação,  de entendimento, passam por vinte anos de breves narrativas. E é importante entender o contexto no qual o autor se encontrava para analisar essa parte de sua obra: tudo o que acontece impacta o produto final.

Além de todos os contos do autor o livro conta, também,  com posfácios escritos por Italo Moriconi, Alexandre Vidal Porto e Heloísa Buarque de Hollanda.