Resenha: O Ladrão do Tempo, por John Boyne
Nome do livro: O Ladrão do Tempo
Nome Original: The Thief of Time
Tradução: Henrique B. Szolnoky
Autor(a): John Boyne
ISBN: 9788535923780
Páginas: 568
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2014
Avaliação: 4/5
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John Boyne tornou-se um escritor célebre no mundo inteiro depois do estrondoso sucesso de seu romance O menino do pijama listrado, mas agora o leitor brasileiro tem finalmente o privilégio de conhecer O ladrão do tempo, livro que deu início à brilhante carreira do autor irlandês. O ano é 1758 e Matthieu Zela resolve abandonar Paris e fugir de barco para a Inglaterra, depois de ter testemunhado o assassinato brutal da mãe pelo padrasto. Apenas um garoto de quinze anos na época, ele leva consigo o meio-irmão caçula, Tomas, criança que se vê impelido a proteger. Começando com uma morte e sempre em busca de redenção, a vida de Zela é marcada por uma característica incomum: antes que o século XVIII acabe, ele irá descobrir que seu corpo parou de envelhecer. Sua aparência é de um homem de cinquenta anos, mas o tempo passa e seu físico continua imutável. Ele simplesmente não morre e não faz ideia de qual seja a razão para que isso ocorra. Ao final do século XX, ele resolve olhar para o passado e rememorar sua experiência de vida, incomparável à de qualquer outro ser humano. Da Revolução Francesa à Hollywood nos anos 1920, da época das Grandes Exposições à quebra da Bolsa de Nova York, Zela transitou por inúmeros lugares, exerceu diversas profissões e conheceu pessoas notáveis, além de ter se apaixonado por muitas mulheres. Mas, mesmo séculos depois, ele continua certo de que seu verdadeiro amor foi Dominique Sauvet, uma jovem que conheceu no barco que tomou com o irmão para escapar da França. O trio se uniu para começar a nova vida na Inglaterra e Matthieu se viu totalmente encantado por Dominique. Com uma trama absolutamente instigante de amor, morte, traição, oportunidades perdidas e esperança, John Boyne já anunciava neste primeiro romance o seu talento inconfundível de exímio contador de histórias.
“Eu não morro. Apenas fico mais e mais e mais velho.”
Matthieu Zéla nos conta neste livro a sua história de vida, que é maior do que a de todas as outras pessoas, já que ele tem cerca de duzentos e cinquenta e seis anos. Intercalando capítulos sobre o início, meio e sua vida atual, o narrador nos leva com suas palavras a compartilhar um pouco da vida que teve até então. Mesmo sem entender exatamente o porquê de ter ganhado esta dádiva, ele aprecia a sua longa vida e não acredita que ela seja um fardo. Mas tudo tem um preço.
Enquanto Matthieu (como gosta de ser chamado) narra a sua história, conhecemos vários personagens importantes em sua vida. Alguns de quem ele sempre se lembrará e outros dos quais nem o nome lembra mais. Conhecemos alguns famosos e acompanhamos a trajetória do personagem em vários momentos históricos. Matthieu viajou o mundo saindo da França e indo para a Inglaterra, trabalhando na Itália, passeando pelo Havaí, morando nos Estados Unidos e etc. Como nasceu em 1743 ele participa como coadjuvante em vários momentos históricos – alguns até como mero espectador, mas estava lá na revolução francesa, na primeira e segunda guerra mundial, na quinta-feira negra (quebra da bolsa), na história da televisão. O autor deve ter feito um grande trabalho de pesquisa para organizar os eventos cronologicamente e organizar as consequências que eles teriam para o narrador.
Durante a leitura, conforme as etapas da vida do personagem eram narradas, o fato de Matthieu ser um ladrão do tempo era pouco falado. Sabíamos que ele parara de envelhecer mas nem ele mesmo parecia saber o porquê disso. Conforme avançamos na leitura é possível perceber que na verdade o narrador sabia exatamente o que acontecia. Ele não sabia como, mas sabia porque.
“Sou velho. Posso parecer jovem – em termos relativos – e pouco distinto fisicamente da maioria dos homens nascidos enquanto Trumman estava na Casa Branca, mas estou muito distante de qualquer vigor próprio da juventude. Acredito a muito tempo que a aparência é a mais enganosa das características humanas e fico feliz por ser a prova viva da minha teoria.”
A forma da narrativa do John Boyne é a mesma dos demais livros que já li do autor. É tudo escrito de maneira simples e fluída, de forma que fica muito fácil fazer a leitura, mesmo sendo um livro com mais de 500 páginas. O autor não é pretensioso em seu modo de narrar e só não deixou o personagem principal mais próximo do leitor porque ele é assim mesmo, distante e solitário. Mesmo a narrativa tendo capítulos de diferentes momentos no tempo intercalados, fica fácil acompanhar e já pelo nome do capítulo é possível ver sobre qual época serão narrados os próximos fatos.
A minha reclamação é quanto a quase não termos explicações sobre como o ladrão do tempo conseguiu manter a sua identidade e fortuna ao longo dos anos, sem levantar suspeita sobre si. Temos somente a informação de que ele gostava de guardar o seu dinheiro em espécie, mas uma fortuna não poderia ser guardada em espécie assim facilmente. É preciso que hajam contas bancárias para que transações de negócios possam ser feitas, é preciso fazer nova identidade para que sua verdadeira idade não seja revelada. Porém nada disso é informado ao leitor.
A editora Companhia das Letras como sempre fez um trabalho de edição impecável: não foi encontrado nenhum erro de revisão. A capa é bem simples, combinando com o estilo do autor e ela remete ao grande sucesso “O Menino do Pijama Listrado“. A diagramação é simples, mas confortável, tendo um bom espaçamento entre as linhas. As folhas são amareladas e a lombada não fica marcada ao ler, mesmo com o volume de páginas do livro.
Tommy, parente mais próximo de Matthieu, deixa no livro uma lição de vida, provando que as pessoas podem sim mudar desde que elas sejam o guia de sua própria vida. Sendo uma vida longa um dom ou uma maldição, Matthieu Zéla fez a escolha que lhe parecia mais correta no final porque ele sempre foi um homem correto, porém só é possível saber qual é a sua escolha no final do livro, quando ficamos realmente conhecendo que tipo de pessoa ele é.