Resenha: Norte, de Edmundo Paz Soldán
Nome do livro: Norte
Tradução: Josely Vianna Baptista
Autor: Edmundo Paz Soldán
ISBN: 9788535923544
Páginas: 312
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2013
Avaliação: 4/5
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Assassinatos brutais cometidos nas vizinhanças de ferrovias aterrorizam os Estados Unidos. O criminoso degola e sangra suas vítimas a facadas. Quase sempre as estupra, antes ou depois de mortas. Em seguida, calmamente abre a geladeira da vítima e se regala com um sanduíche de presunto, um copo de leite ou uma lata de cerveja enquanto assiste à TV. Quando as autoridades divulgam que o suspeito dos crimes pode ser de origem hispânica, uma onda de preconceito e violência contra os imigrantes se alastra pelo país.Esse serial killer se torna a obsessão de Rafael Fernández, um modesto policial militar do Texas, descendente de mexicanos. Divorciado e distante dos filhos adolescentes, ele se refugia de seus problemas pessoais no trabalho e nas relações casuais com prostitutas.Outra personagem central no romance, a boliviana Michelle, jovem pós-graduanda em estudos literários, vive às voltas com sua desastrosa paixão por Fabián, professor e ensaísta brilhante, cuja utopia intelectual é elaborar uma teoria geral da ficção latino-americana. Mas, em vez de escrever enfadonhos ensaios e papers sobre crítica literária, Michelle prefere desenhar histórias em quadrinhos protagonizadas por zumbis e ambientadas nos desertos da fronteira entre o México e os Estados Unidos.A história desses dois personagens irá se entrelaçar com a vida do obscuro camponês mexicano Martín Ramírez, que chegou aos Estados Unidos fugindo da guerra revolucionária no México. Errante pelas ruas e estações de trem, esfarrapado e sem documentos, Martín é recolhido a um manicômio na Califórnia com o diagnóstico de demência catatônica. Seu enorme talento como desenhista será o elo insuspeito entre as múltiplas vozes da trama de Norte.
Por Jairo Canova
Em Norte, Edmundo Paz Soldán reabre a velha ferida da fronteira entre Estados Unidos e México com uma facada. O tema sociológico e cultural vai mudando a sua abordagem ao longo das páginas e de acordo com qual dos quatro personagens principais está em destaque no capítulo, e cada um aborda o problema por ângulos diferentes e próprios.
O autor claramente é experiente, o livro todo não usa nenhuma comparação, as descrições são mantidas no mínimo para o leitor compreender o andamento da narrativa. Outro aspecto muito positivo é que Edmundo Paz Soldán não tenta ser um autor melhor do que é, erro muito comum entre autores nacionais e latino-americanos. Sua narrativa é crua, dura, direta, sem acessórios inúteis. Em todo o livro de uma página para outra se passam algumas horas, dias, semanas, meses. Raramente alguma cena é descrita por mais do que duas páginas, assim em suas 312 páginas passa-se 60 anos com a história dos dois países como pano de fundo.
Desde a apresentação dos quatro personagens principais ficamos esperando o momento em que suas histórias começarão a se entrelaçar. O mais evidente é o ranger Fernandez e o psicopata Jesús, e eventualmente outras conexões aparecem de maneira natural.
Mesmo se tratando de uma obra de ficção o livro é parcialmente baseado em fatos reais. Jesús ganha o apelido de The Railroad Killer, e usava diversos nomes entre eles o de Reyes. O caso real guarda muitas semelhanças, inclusive a descrição do personagem com as fotos do assassino real. Veja mais detalhes aqui.
Já o pintor esquizofrênico Martín Ramirez que aparece no livro tem o mesmo nome e biografia do artista que o inspirou, e a descrição dos quadros que cria durante a obra é a mesma do artista, veja a galeria aqui e a biografia de Martín Ramirez aqui.
Definitivamente o livro é direcionado para maiores de 18 anos. As cenas de sexo são explícitas, algumas com violência e sangue. As ilusões psicóticas dos personagens podem ser contagiantes, cuidado. Alguns momentos de humor negro deixam a narrativa menos pesada, mas nada de mau gosto.
Norte não demora muito para ser lido, há muitos diálogos e em nenhum deles há indicação de que aquilo é uma fala, mesmo quando ocorrem dentro de um parágrafo. Uma variação muito interessante do que faz José Saramago, mas Norte é muito mais fácil de continuar lendo. Os diálogos que são incluídos em uma linha própria não tem indicação de estado do personagem, ou de ações durante o diálogo, o que acelera a leitura e permite que as próprias palavras induzam o leitor a imaginar o que acontece, fazendo com que a descrição de detalhes seja desnecessária sem prejudicar o entendimento e a fluidez do texto.
Como leitor principalmente de ficção científica e fantasia apenas olhando a capa e a sinopse esse livro não pareceria ter muito apelo. Mas ao começar a história pela juventude problemática de Jesús e em seguida alternar os capítulos entre os personagens a narrativa não fica cansativa, algo muito comum em obras recentes que esgotam o coitado do personagem principal e o leitor sofre junto. As páginas de coloração bege da Companhia das Letras e o tamanho médio do livro são adequados para esse tamanho de novela, ótima de segurar e de carregar. Erro de digitação só encontrei um, a revisão muito bem feita não permite quebras no ritmo.
Uma leitura recomendada para quem gosta de histórias de psicopatas, escrita de forma realista ao extremo, com muita personalidade e um convite aos fãs do gore para terem uma visão mais completa do que o foco exclusivo nos assassinatos e no sangue.
Uma citação para concluir:
O destino tinha suas formas de se manifestar. O difícil, o importante, era encontrar esse destino, escutar suas instruções.”
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