Maria Callas | Crítica

Pablo Larraín conclui sua trilogia sobre a tristeza feminina, iniciada com Jackie (2016), seguida por Spencer (2021), e agora com Maria, estrelado por Angelina Jolie em uma interpretação emocionante da superestrela do canto lírico Maria Callas (1923-1977). Como característica marcante dessa série de filmes, Larraín opta por focar em pequenos recortes da vida das biografadas, destacando momentos de intensa tristeza e melancolia.

No caso de Maria, somos apresentados a um período delicado na vida de Callas. A soprano enfrentava a perda gradual da voz, agravada por um problema cardíaco e o uso de medicamentos sem prescrição médica. Além disso, o filme explora parte de sua conturbada relação com o magnata Aristóteles Onassis, um vínculo marcado por amor, conflitos e desilusão.

Em meio a essa turbulência pessoal, Callas se engaja na realização de um documentário autobiográfico. Por meio desse projeto, ela revisita memórias de sua infância, reflete sobre sua ascensão aos palcos e expõe os bastidores de sua vida como uma das maiores divas do século XX. O filme não se limita a glorificar sua trajetória; pelo contrário, humaniza Callas ao mostrar suas fragilidades, dilemas e momentos de introspecção.

Um dos aspectos mais tocantes da narrativa é a simplicidade de certos momentos do cotidiano. Callas interage com seus empregados, Ferruccio (Pierfrancesco Favino) e Bruna (Alba Rohrwacher), em cenas como um despretensioso jogo de cartas, revelando que, por trás do brilho e da grandiosidade, existe uma mulher comum, vulnerável e sensível. Esses momentos contrastam com a imagem pública da diva e reforçam a mensagem central de Larraín, até os ícones mais venerados carregam consigo a complexidade da condição humana.

Maria é mais do que um retrato biográfico; é uma imersão poética na alma de uma artista que viveu entre o esplendor e a solidão. Com uma direção sensível e atuações marcantes, o filme convida o espectador a refletir sobre o peso das expectativas, os sacrifícios da fama e a busca por significado em meio ao caos emocional.