LançamentosTeatro

Luz e Neblina | Crítica de Teatro


Encerrando a programação da “Retrospectiva Fellini”, realizada no Cine Humberto Mauro, o Grupo Quatroloscinco recebeu a difícil e bondosa missão de contar parte da história do diretor em uma livre adaptação de “Noites de Cabíria”. A apresentação única ocorreu no dia 03/07/2024, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes, às 20h.


Na história, conhecemos Cabíria, uma atriz de cinema que tenta encontrar sua missão, dada pelo Maestro: encontrar olhos bons. Desde então, a personagem passa por uma busca constante, procurando sentido na vida e a bondade das pessoas em um mundo tão cruel. Representada pela maravilhosa e incrível Rejana Faria, a atriz incorpora uma versão clássica e ao mesmo tempo moderna da personagem. Temos momentos de submissão e ordem, mas também de empoderamento e força, enquanto a personagem busca sua verdadeira essência.


Confesso que nunca vi algo no teatro com tamanha grandiosidade. Em termos técnicos, é uma aula de bastidores e cinema ao vivo, acontecendo bem na sua frente. O teatro se torna um reflexo do cinema, e tudo isso vira uma ilusão. A grande sacada de Ricardo Alves Jr. e a dramaturgia de Germano Melo mostram como Cabíria precisa partir para a noite de luz e neblina para encontrar, ou reencontrar, seu propósito de vida. Temos a famosa frase “corta”, figurantes entrando em momentos específicos, câmeras posicionadas, um telão, elevador, músico, orquestra, banda – tudo para mostrar que é possível fazer cinema dentro do teatro e como essas artes se comunicam. É um resultado bárbaro. Além da técnica, temos a narrativa e a dramaturgia, em um texto que questiona a saturação de imagens, o algoritmo e o que de fato é nossa própria verdade. Toda a equipe merece ser lembrada e aplaudida de pé, como realmente foi. Isso valoriza profissionais que muitas vezes nem sabíamos que existiam e nos força a ter um olhar além da personagem, acompanhando o todo.


A obra nos faz questionar quem somos em todos os sentidos, qual nossa verdadeira motivação e propósito em um mundo tão cruel. Na peça, existem duas Cabírias: uma mais recatada e outra que se empodera. Ver essa segunda nascendo e tomando as rédeas, controlando as luzes e mostrando a verdade nua e crua sobre os processos, sem nada engessado, é algo lindo e honesto. Rejana Faria toca o coração e a alma do público com tamanha sensibilidade, mas com uma verdade recíproca no sentimento.


Arrisco-me a repetir a frase de Isabela Boscov, que fala de inovação e revolução: sem dúvida, “Luz e Neblina” consegue isso com muita maestria. Faltam-me palavras para descrever e ainda mais para encontrar defeitos nessa obra tão forte, poética, viva e realista, que brinca com as questões de forma teatral. Resta agora torcer para que este espetáculo ganhe uma temporada na cidade e, principalmente, uma turnê pelo Brasil, para que outras pessoas conheçam um pouco de Fellini e se interessem por ele.

FICHA TÉCNICA DO ESPETÁCULO:

Atuação: Assis Benevenuto, Ítalo Laureano, Marcos Coletta e Rejane Faria

Dramaturgia: Germano Melo

Direção: Ricardo Alves Jr.

Produção: Maria Mourão

Iluminação: Marina Arthuzzi

Direção de Arte: Luiz Dias

Assistência de Arte: Caroline Manso

Assistência de Produção: Jean Gorziza

Edição ao Vivo: Janaína Patrocínio

Câmeras: Daniella Fonseca, Diego d’Avila e Eduardo Falcão

Trilha Sonora ao Vivo: João Myrrha

Operação de Som: Daniel Nunes

Realização: Grupo Quatroloscinco, Entrefilmes e Palácio das Artes

Duração: 70 minutos

Faixa etária: 14 anos

Informações

Local: Grande Teatro Cemig Palácio das Artes

Horário: 20h

Classificação: 14 anos

Informações para o público: (31) 3236-7400

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.