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Ainda Temos o Amanhã | Crítica

O filme Ainda Temos o Amanhã é uma divertidíssima comédia que usa o riso como forma de contar o momento em que as mulheres foram em peso exercer seu direito de votar nas primeiras eleições políticas na Itália. Muitos filmes que narram fatos históricos são feitos de uma forma que os podem tornar menos atrativos ao grande público e aqui a diretora do filme, Paola Corteselli, que também é a protagonista da história, deu o pulo do gato ao fazer um filme não somente leve, mas que se apropria da liberdade em contar uma história no cinema da maneira que preferir, sem estar totalmente presa a um modo clássico de narrar um filme. Para isso, mostrou de maneira cômica os percalços que muitas de nossas mães, tias e avós passaram (e ainda vivem), quando eram reprimidas seja por seus maridos ou pela sociedade. E por isso, o filme acaba tendo apesar dessa aparência de comédia, um fundo bastante trágico.

Délia é a mãe de dois meninos pequenos e uma moça quase adulta. Se dedica não só ao pesado trabalho doméstico, mas também trabalhando em inúmeros bicos para agregar dinheiro na renda familiar, juntamente com a filha. Enquanto que o marido, carrega todos os esteriótipos do machão, esconde sua própria frustração pessoal com a vida que leva e prefere culpar e maltratar a esposa a todo momento por sua vida. Com agressões físicas e psicológicas.

E o filme nos mostra uma Délia resignada com sua vida, embora ciente que não é justo o que vive, seja em casa com o marido e os filhos homens replicando o comportamento do pai, seja recebendo menos por seu trabalho só por ser mulher. Esse tom cheio de positividade que ela carrega nos mostra em realidade o que pode ser o próprio comportamento de muitas de nossas parentes ou conhecidas que viveram essa realidade.

É louvável que esses detalhes e camadas são colocados no filme de forma inventiva. A filha por não se colocar suficientemente no lugar da mãe, a rejeita por não reagir contra as agressões do pai. Termina por exclui-la nos pequenos momentos de felicidade com um simples abraço por exemplo, mas Délia fica quieta com a rejeição da filha porque está feliz com o êxito dela. Ao mesmo tempo essa passividade da mãe é só até certo ponto e certo momento, porque ela termina por protagonizar a própria história, fazendo o que precisa fazer.

Outro mérito do filme é não sustentar o filme na figura do homem como salvador da vida de Delia. O amanhã que o titulo menciona é na realidade a capacidade que a protagonista teve de entender que sua história pode ser reescrita a todo momento por si própria, sem que dependa de um homem para segurar sua mão. E por conta disso pode mudar não só a sua história mas a de seus filhos. Nisso está a beleza do filme, porque para alem da comedia ou do jeito inusitado de contar uma história misturando gêneros e dando uma sacudida na narrativa clássica, faz um filme em que o otimismo frente a adversidade é praticamente ensinado.

Avaliação: 4 de 5

Ainda Temos o Amanhã

Título Original: C´è ancora domani

1h 58min | Comédia, Drama

Direção: Paola Cortellesi

Roteiro: Paola Cortellesi, Furio Andreotti

Elenco: Paola Corteselli, Valerio Mastandrea, Romana Maggiora Vergano, Emanuela Fanelli, Giorgio Colangeli, Vinicio Marchioni, Francesco Centorame, Raffaele Vannoli

Vitor Damasceno

Estudante de cinema atualmente vivendo em Buenos Aires.

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