Lilith | Crítica
Lilith, dirigido por Bruno Safadi, apresenta uma visão intrigante e imaginativa da passagem bíblica que envolve Adão (Renato Góes), Lilith (Isabél Zuaa) e Eva (Nash Laila). O filme é uma tentativa arrojada de reinterpretar mitos antigos através de uma lente contemporânea, resultando em uma experiência fascinante.
Uma das maiores realizações de Lilith é sua capacidade de mergulhar nas complexidades psicológicas dos personagens principais. Ao invés de retratar Lilith como uma mera vilã ou Eva como uma inocente, o filme explora as nuances de suas personalidades e motivações. Isso adiciona profundidade aos personagens e convida o público a questionar as narrativas tradicionais.
A abordagem lúdica adotada por Safadi é evidente em toda a película. A cinematografia vibrante e as performances expressivas dos atores contribuem para uma atmosfera surreal, onde os mitos se entrelaçam com a realidade de forma fascinante. No entanto, essa mesma abordagem pode ser um ponto de divisão para o público, pois alguns espectadores podem achar a narrativa excessivamente fantasiosa ou desconectada da mensagem original da passagem bíblica.
Além disso, Lilith não está isento de críticas. Alguns podem argumentar que a interpretação do diretor é excessivamente liberal e diverge demais da fonte original, tornando difícil para alguns espectadores identificar os elementos essenciais da história bíblica. Outros podem sentir que o ritmo do filme é inconsistente, com momentos de intensa energia seguidos por períodos de lentidão que podem prejudicar o envolvimento do público.
O som e o Som do Sotaque
Outro aspecto intrigante de Lilith é a maneira como o filme utiliza elementos de linguagem e sotaque para diferenciar os protagonistas. A escolha de dar a Lilith um sotaque português de Portugal, enquanto Adão e Eva são representados com sotaques nordestinos, cria uma dinâmica fascinante entre os personagens. Essa diferenciação não apenas acrescenta camadas à narrativa, mas também ressalta as diferenças culturais e sociais que podem existir entre eles, mesmo dentro de um contexto mitológico.
A atenção aos detalhes sonoros, incluindo a trilha sonora envolvente e os sons ambientais cuidadosamente selecionados, é outro ponto forte do filme. A contribuição de Edson Secco para a experiência sonora de Lilith eleva o filme a um nível ainda mais alto, imergindo o espectador em um mundo sonoro rico e cativante. Esses aspectos sensoriais não apenas complementam a narrativa visual, mas também ampliam a atmosfera mística e envolvente do filme.
No entanto, enquanto esses elementos contribuem para a singularidade e riqueza estética de Lilith, alguns espectadores podem sentir que a ênfase excessiva em detalhes sonoros e linguísticos pode obscurecer a mensagem central do filme. Em alguns momentos, a complexidade desses elementos pode distrair da história principal, deixando o público dividido entre apreciar a beleza estética do filme e compreender plenamente suas nuances temáticas.
Apesar dessas possíveis ressalvas, Lilith continua sendo uma obra cinematográfica ousada e envolvente que desafia as expectativas do público e oferece uma visão refrescante de um conto antigo. A combinação de uma narrativa imaginativa, performances poderosas e uma atenção meticulosa aos detalhes técnicos solidifica o filme como uma contribuição significativa para o cenário cinematográfico contemporâneo.
Em última análise, Lilith é um filme provocativo que desafia as convenções e convida o público a refletir sobre questões profundas sobre identidade, liberdade e poder. Embora nem todos possam apreciar sua abordagem única, é inegável que o filme é uma obra de arte ambiciosa que merece reconhecimento por sua originalidade e coragem.
Lilith
(Brasil, 2022)
Direção: Bruno Safadi
Roteiro: Vera Egito, Bruno Safadi
Elenco: Isabel Zuna, Renato Góes, Nash Laila
Diretor de fotografia: Lucas Barbi
Diretor de Arte: Dayse Barreto, Luísa Horta
Montador: Karen Akerman
Produtores: Tante Bressane, Bruno Safadi
Produtor Associado: Carlos Diegues
Produção: TB Produções
Co Produção: Globo Filmes
Distribuidor: Pandora Filmes