O pior vizinho do mundo | Crítica
Pergunta rápida, você gosta de seu vizinho? Está é uma pergunta aproveitada à exaustão pelo cinema de comédia americano. Neste caso, embora o título faz pensar em uma comédia pastelão, os mais atentos vão reconhecer as similaridades com certo filme sueco de 2015, notável por ter cavado duas indicações ao Oscar, e de ter visto um título parecido nas listas de mais vendidos.
Os mais desatentos – que Otto certamente chamaria de idiotas – vão se surpreender com um Tom Hanks mais ranzinza que o de costume. E entre muitas críticas, talvez aqui more o maior sucesso desse filme, construir antipatia e empatia pelo protagonista em doses calculadas ao longo do filme. O filme, de forma muito inteligente abre com o protagonista em uma loja de ferramentas, onde despeja rabugices para nos distrair do fato de que está comprando uma corda.
O pior/melhor vizinho
A verdade é que Otto é um homem desiludido pela vida, que perdeu tudo quando sua esposa faleceu e que planeja se juntar a ela o mais rápido possível, até que a mudança de uma família como seus vizinhos parece dar um novo objetivo à sua vida. Antes disso, enquanto perde o emprego e tem sua casa ameaçada por uma construtora, tudo que lhe resta é sua rotina: Julgar os vizinhos, anotar as placas dos carros estacionados de forma errada na rua, guardar as bicicletas de adolescentes no lugar e separar o lixo reciclável.
Pouco a pouco, no entanto, a medida que as tentativas de Otto em dar fim a própria vida descambam em situações absurdas, o filme vai voltando ao passado para mostrar sua perda. Espere aqui o básico, já que a palavra que define este filme não é inovação, mas carisma.
Hanks equilibra perfeitamente seu personagem, mas o coração do filme é a Marisol de Mariana Treviño. Em um dos vários acenos do filme ao mundo moderno com a representatividade batendo forte na trama, a personagem latina representada como voz forte e eixo moral cumpre mais do que um papel barato graças ao talento da atriz. O mesmo não se pode dizer de Truman Hanks, que não impressiona.
Ironicamente, falta coração
O problema real de “O pior Vizinho do Mundo” é depender demais dos clichês mais reconhecíveis e marcados como regra da dramédia. Tudo isso não torna o filme ruim, mas muito pouco surpreendente. O fim, que até é tocante, é cantado eras antes de acontecer. E quando nos damos conta disso, as pequenas sutilezas inteligentes perdem o brilho. Nesse sentido, a versão sueca tinha mais alma e a versão literária tinha mais ludicidade.
Bem, ao menos a versão americana de 2023 tem um excelente dupla capaz de fazer esse passeio valer a pena. Como ir à cidade tomar um café e comer bolinhos nos sábados.
O Pior Vizinho do mundo (A Man Called Otto)
Dirigido por Marc Forster
EUA/2023
Comédia/Drama
Elenco:
Tom Hanks, Mariana Treviño, Rachel Keller,
Mack Bayda, Cameron Britton
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