Morbius | Crítica
Depois de sucessivos adiamentos, “Morbius” chega ao cinema com uma experiência melancólica. É triste se deparar com um filme que aparenta ter sido mutilado e reescrito seguindo pesquisas de mercado, entregando aquele que luta para estar no seleto grupo das piores adaptações de quadrinhos já feitas. Com sinceridade, se quer ver um bom filme de quadrinhos com morcegos, recomendo “The Batman” (Veja a crítica)
O diabo está nos detalhes
Não seria exagero dizer que os problemas de “Morbius” começam já na fonte da abertura. O tom genérico da fonte já vista no trailer e no material de publicidade é intercalado com um jogo de cores vivas a la disco que não dialogam entre si em tom ou proposta. Um prenúncio do que viria durante toda a projeção.
Na trama, acometido com um raro distúrbio sanguíneo e determinado a salvar outros que sofrem do mesmo destino, o Dr. Morbius arrisca tudo numa aposta desesperada. Embora a princípio tudo pareça um sucesso absoluto, depois de mesclar seu DNA com o de morcehos vampiros, surge uma escuridão que se desencadeia dentro do protagonista. Mas não se empolge.
O filme, centrado em um vilão tenta construir um anti-herói com todas as virtudes de um herói clássico. Buscando convencer o expectador todo o tempo a ter empatia e se conectar com o personagem-título, todas as suas ações são higienizadas.
Se ele ultrapassa limites éticos, é porque se preocupa com a vida das crianças. Se ele se descontrola e mata os mercenários que o acompanhavam, o filme corre para desumanizá-los e reduzir os personagens a “bandidos terriveis que mereciam a morte”.
O resultado é a criação de dilemas e conflitos forçados ao limite, centrados em personagens que possuem a profundidade de um pires.
Um filme apressado, mas que dura uma eternidade
Assim, sempre que pode, “Morbius” avança com a quinta marcha, como se tivesse um destino grandioso a nos apresentar. Promessa inútil, no entanto. Mantendo a estrutura narrativa de “Venom” – que por sua vez já é uma simplificação do modelo MCU – não tem nada a oferecer fora de um espetáculo de CGI mal acabado.
Com uma história frágil, busca se apoiar no carisma de Jared Leto e Matt Smith, e isso o filme retira de ambos. Se por um lado, Leto luta para trazer nuances ao seu protagonista, Smith parece ter percebido rapidamente a galhofa e simplesmente jogado a toalha.
Mesmo as pequenas piadas sagazes colocadas para entretar o público parecem pálidas, embora algumas funcionem melhor que outras. Desse modo, o nome do navio ser Murnau e a piada sobre queimar no sol funcionam muito melhor do que a referência à série do Hulk – Sério, “You wouldn’t like me when I’m HUNGRY!?“.
Tudo soa como uma sucessão de más escolhas feitas por executivos olhando uma planilha com o pretenso segredo do sucesso. O erro mais antigo desta mídia. E o pior? Pode dar certo. Mas assim como certo personagem que surge nas cenas pós créditos, se for esse o caso, eu prefiro desaparecer em uma explosão luminosa.
Ficha Técnica
Morbius
Direção: Daniel Espinosa
Roteiro: Burk Sherpless, Gil Kane, Matt Sazama
Elenco: Jared Leto, Matt Smith, Adria Arjona,
Jared Harris, Tyrese Gibson, Al Madrigal
Classificação: 14 anos
Duração: 108 minutos
É, Rafa… Esse é o famoso “Preferia ter ido ver o filme do Pelé”