Era uma vez a máfia | Crítica (2019)
“Era uma vez a máfia” é um filme que te desafia. É um documentário e é uma peça de humor. Fala sobre um tema traumático para o público italiano, mas o faz de forma jocosa. Isso tanto no texto quanto na linguagem. Para muitos, acostumados com o tom frio e técnico dos documentários jornalísticos é difícil entender que a forma de filmar uma peça documental encontra muitos meios, mas para aqueles que se entregarem à exibição, terão um entretenimento de primeira.
Não é fácil representar a máfia no cinema . Especialmente se por máfia não entendemos aquela estrutura criminosa organizada por clãs ou organizações familiares comandadas por um padrinho e agindo nas sombras para tramar o tráfico de drogas, furtos, roubos, homicídios e tudo o mais que o cinema nos ensinou a reconhecer como tal.
A história começa no 25º aniversário dos massacres de Capaci e via D’Amelio, em 2017. O diretor, Franco Maresco primeiro pergunta aos “homens comuns” o que eles pensam de Falcone e Borsellino, recebendo um bem dito “nada” como resposta.
Acompanhamos então Letizia Battaglia , a fotógrafa já com mais de oitenta anos que com os seus disparos conta as guerras da máfia, uma vez escolhida pelo New York Times como uma das “onze mulheres que marcaram o nosso tempo” e que reclama nunca ter sido escalada em um projeto no qual interpretaria uma “puta velha”, seu sonho oculto.
A ideia do filme é clara, retratar uma terra povoada por muitos que, ainda hoje, negam a evidências. E que, além disso, se recusam a reconhecer Falcone e Borsellino como heróis nacionais. Os que conhecem a história se pegarão muitas vezes rindo, um riso nervoso quase sempre, como deve esperar quem viu “Belluscone”(2014) e como é comum das obras de Maresco. Trata-se deuma comédia grotesca que visa encontrar uma explicação para o interior que o próprio realizador reconhece que já se tornou “um espectáculo sem fim e sem sentido, onde a distinção entre o bem e o mal, entre a máfia e a antimáfia, foi completamente eliminada”.
Para o leitor perdido, pense em “Borat”, só que melhor. Aqui temos as mesmas dúvidas sobre se esta ou aquela cena são reais ou encenadas (ou estamos mesmo vendo uma ameaça de assassinato em aúdio perfeito?) O filme te testa aos limites da moralidade e do senso ético e entrega algo que é realmente um reflexo dos nossos dias. Sempre brilhante e cínico, Franco Maresco é um diretor excelente que o expectador brasileiro deveria dar mais atenção.
Era uma vez a máfia (2019)
La mafia non é piu quella di una volta
Itália
Direção: Franco Maresco
Documentário
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