Crítica “O Insulto”
O Insulto (L’insulte, 2017)
Duração: 1h52
Direção: Ziad Doueiri
Roteiristas: Ziad Doueiri, Joelle Touma
Elenco: Adel Karam, Kamel El Basha, Camille Salameh, Diamand Bou Abboud, Rita Hayek, Talal Jurdi, Christine Choueir, Julia Kassar, Rifaat Torbey, Carlos Chahine
Trilha Sonora: Éric Neveux
Direção de fotografia: Tommaso Fiorilli
Edição:Dominique Marcombe
Beirute. Toni é um cristão libanês que sempre rega as plantas de sua varanda e um dia, acidentalmente, acaba molhando Yasser, um refugiado palestino. Assim começa um desacordo que evolui para julgamento e toma dimensão nacional.
Quem imagina que um assunto simples pode ser o prelúdio de uma guerra civil. Um calha quebrada seguida de palavras ofensivas geram um desconforto grande, ao ponto de levar dois homens comuns ao tribunal. Em um país que passou a maior parte da sua história atual imerso em uma guerra civil, as diferenças são fomentos a intolerância. Religiões distintas separam os que ali vivem. A tensão é contante e acentuada pelos efeitos da imigração: palestinos refugiados são vistos como aqueles que roubam os direitos dos nativos.
Ziad Doueiri em O Insulto, faz uma crítica escancarada as tensões contemporâneas relacionadas ao acolhimento de refugiados. A oposição e tensão criada entre Tom Hanna (Adel Karam) e Yasser Abdala Salameh (Kamel Al Basha) surge diante de uma divergência que poderia ser remediada. O mecânico Hanna é católico e mora em um bairro pobre com sua esposa grávida, Shirine Hanna (Rita Hayek). Yasser é o chefe de serviço da obra feita na região. Ele é ilegal no país e trabalha com o que pode lhe dar alguma renda. Durante a manutenção do prédio no qual o mecânico mora uma desavença alimentada pela má vontade. O peão de obra quer apenas executar seu trabalho e Tom, receber um pedido de desculpas.
Acreditando ter razão, Tom move “mundos” para que Yasser seja punido por insultá-lo. Percebemos aqui que há algo errado na certeza que o mecânico tem de ser o dono da razão. O que é dito em todo o filme, ou por meio de diálogos das personagens ou por suas atitudes é que o motivo não é a ofensa. Existe uma animosidade definida por quem cada um é e onde está. O nativo que é “dono” daquela nação e o imigrante, um intruso.
O orgulho de Tom Hanna em admitir que se excedeu não permite que essa ação se encerre. Ele está magoado demais com atos do seu passado e não sabe se afastar deles para perceber que está promovendo o retorno do que mais o assusta: a guerra. Estar certo é mais importante que ser justo. Não importa mais nada a não ser o fato de que o pedido de desculpas não foi efetuado.
Com a ação indo ao tribunal, inicia a batalha entre os advogados para vencerem o caso. O passado de ambos é investigado e a cada movimento algo de novo surge sobre a personalidade daquelas pessoas. Não apenas das protagonistas, mas também da dupla defesa, Nadine Wehbe (Diamand Bou Abboud) e acusação, Wajdi Wehbe (Camille Salameh), pai e filha. Durante as apresentações de cada lado, percebemos como as ações xenofóbicas são reproduzidas com naturalidade. Ser contra o estrangeiro é algo comum e, isso lhe afirma como um cidadão que respeita e se importa com o seu país.
O advogado em um certo momento alega que, aquela ação vai contra o respeito aos patriotas, pois “está na moda defender ESSA GENTE”, os palestinos – isso, após relatar todos os grupos minoritários que tem voz na atualidade. A ideia de discriminação reversa é utilizada em vários argumentos. O argumento de Wadji é de que algumas discriminações podem ser feitas por já serem comumente proferidas há tempos. Destaco a interpretação do ator Camille Salameh que rouba a cena desde sua primeira aparição.
O Insulto é um dos concorrentes ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2018. Abordando esse lado vil da humanidade, que é egoísta, nos faz pensar em nosso “universo umbigo”. É uma reflexão essa necessária em tempos de agressões gratuitas com quem se encontra em posição de discordância. Seu pecado, um final que “amacia” a discussão levantada. Ainda assim um filme ao qual devemos ver e dialogar sobre.
Nota: 3,5/5
Assista ao trailer aqui:
Nossa que filme fantástico, assistirei hoje antes de dormir. Que critica social incrível sobre os refugiados. É interessante ver como esse problema é realmente um problema, creio que muitas pessoas não acreditam que há um preconceito com refugiados e esse filme parece mostrar exatamente como é viver em um país que não é o seu e enfrentar as dificuldades daquele novo “lar”
Ele é um filme muito bom mesmo. Reflexivo o bastante para nos fazer perceber o quanto podemos ser crueis diante das pessoas que possuem crenças diferentes das nossas.
Recomendo também, esse documentário http://www.entrandonumafria.com.br/2017/11/critica-human-flow-nao-existe-lar-se-nao-ha-para-onde-ir.html.
Espero que goste.
O filme pode mostrar bem que ser um estrangeiro, mesmo com toda modernidade de um pais, nem sempre são flores. Você vê que um problema simples pode levar a questões mais profundas e enraizadas da sociedade.
Acho que o filme deve trazer um debate extremamente necessário e válido para a sociedade em que vivemos.
Exato Nathalia.
Essa reflexão se faz cada vez mais necessária.