Crítica do Filme “Lucky”
Temos aqui um filme de ator. Harry Dean Stanton infelizmente faleceu pouco antes da estreia e embora tenha outro filme a ser lançado pode-se dizer que Lucky é aqueles filmes simbólicos de despedida: forte, sensível e alegre. Certamente poderia ser maior, mas no conjunto da obra vale muito a pena.
Filmes sobre o idoso e sua relação com a morte tendem a cair na melancolia e não despertam tanto interesse do público em geral. Esse trabalho se propõe a explorar o que o personagem faz no seu dia a dia, que se repete seguidamente. É uma rotina simples, com muito cigarro, caminhadas, conversas tranquilas com pessoas da cidade pequena, uma passada a noite para um drink no bar onde pode rolar uma conversa mais animada.
Essa simplicidade toda a princípio fica longe de todos nós, mas o trabalho forte desse ator encontra resultado justamente nisso. De repente você está envolvido com sua tragédia pessoal, sua possível solidão e o melhor, sobre seu futuro. Sou suspeito para falar de atores mais velhos, só no Brasil há várias preciosidades. O que falar da magia pessoal, no simples existir, na bondade sempre perceptível, na profundidade no olhar de Laura Cardoso? Como administrar tanta força criativa, emotiva, tanta diversidade na caracterização, na humanidade colocada em todos os personagens de Lima Duarte? Fico pensando que existe um ser humano que reúne todas as características desses dois atores e ainda é jovem e fico imaginando que alcançará o nível Ômega (citando X-Men) ou o nível Fernanda Montenegro, se é que já não alcançou, pois a danada é humilde, a magnífica Gloria Pires.
Sempre me impressionou o ofício de ator. Considero uma das profissões mais enigmáticas. É um oceano profundo de mistérios e camadas que só consegue explorar quem trabalha duro, quem se entrega. Penso que assim como a música, é uma das artes que mais suga da essência vital do individuo que a exerce. Isso pode ser uma dádiva ou como diria Truman Capote, um chicote para se autoflagelar.
Voltando ao ator principal, sua brutalidade é alternada por dois momentos únicos de pura emoção como sua inesperada reação depois de uma breve discussão no bar e sua atitude e m o c i o n a n t e na festa de uma família latina. Óbvio que esse momentos funcionam bem na narrativa, mas existe inúmeros outros fatores importantes, como a generosidade do povo da cidade que respeita e se preocupa com aquele senhor.
O fato é que Lucky é o que é devido ao trabalho excelente do ator Harry Stanton, mas contamos com participações generosas e oportunas como a do grande diretor David Lynch e de todos os atores da trama, que sempre entregam algo. O trabalho em geral do diretor estreante John Carroll Lynch é bem interessante, com escolhas adequadas com a edição, enquadramentos, ritmo e fotografia. Tudo é direcionado a favor da trama e dos detalhes que conduzem a enveredarmos no mundo pessoal de Lucky, que mesmo sozinho, rude e metódico, é capaz de ser generoso e ainda pratica yoga diariamente!
Nota: 4,4/5
Trailer Oficial:
Vitor, excelente sua visão sobre o filme! Gostei muito e me deu vontade de assistir.
Obrigado Sérgio ! Fico feliz que tenha se motivado, Lucky vale muito a pena !
Assisti o filme e cara, achei interessante a tua crítica. Não tinha parado pra pensar que o filme é otimista e bem como você mencionou, a cena dele sorrindo é incrível. Uma super atuação ! Já tinha gostado do filme e agora gosto mais ainda. Vlw
Bruno obrigado ! Embora os idosos sejam tratados geralmente com descaso e melancolia, Lucky contraria isso e tem liberdade como poucos !