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Resenha “Stranger Things – 2ª Temporada”

Stranger Things – 2ª temporada (2017)

Duração: 55 min (cada episódio)
Canal: Netflix
Criadores:Matt DufferRoss Duffer
Elenco:Millie Bobby BrownFinn WolfhardWinona Ryder, David Harbour, Finn Wolfhard, Gaten Matarazzo, Caleb McLaughlin, Natalia Dyer, Charlie Heaton, Joe Keery, Noah Schnapp, Matthew Modine, Sean Astin, Paul Reiser 
 Esse artigo contém spoilers.

Sem surpresas, a nova temporada de Stranger Things repete a viagem no tempo, mas se perde em excessos

Um ano após os eventos sobrenaturais alterarem a rotina de um grupo de amigos da cidade de Hawkins, a cidade se encontra tranquila, imersa em sua rotina. É como se nada tivesse abalado a vida daquelas crianças e de suas famílias. Será mesmo?

Na cena de abertura dessa nova temporada de “Stranger Things”, um grupo de punk foge de uma cena de crime. Em um furgão, com a polícia em seu encalço, aos berros de euforia (?) e medo, o grupo se safa ao passar em um túnel que tem as portas bloqueadas por um soterramento. O primeiro carro da polícia que desvia dos escombros é atingido pelos que o seguem. Indignado com o motorista, seu companheiro de viatura indaga o porquê dele ter feito aquele desvio brusco. O motorista olha novamente para o túnel e percebe que sua entrada está intacta.

No furgão, ao lado da motorista, uma jovem limpa o sangue do nariz e, com ironia, sorri. O fato é a prova de que há no mundo mais pessoas como Eleven (Millie Bobby Brown), “livres” no país. Essa é apenas uma das inserções de novas personagens na trama. Além dessa personagem, Kali (Linnea Berthelsen), nesse primeiro episódio somos apresentados a Murray Bauman (Brett Gelman), Bob Newby (Sean Astin, o Sam de Senhor dos Anéis), Dr. Owens (Paul Reiser), Billy  (Dacre Montgomery)e Maxine (Sadie Sink). Respectivamente eles são o investigador particular contratado para desvendar a morte de Barb (Shannon Purser), o namorado de Joyce Byers (Winona Ryder), o médico de Will Byers (Noah Schnapp) e, o irmão e a nova garota da escola.

Desenvolvendo as novas personagens

Inserir de cara seis personagens em um episódio é entusiasmante. Pensei muito em como seria o tratamento dado as particularidades de cada um. Torci para que não desse errado, mas deu. Enquanto o investigador Murray, aparece quando é necessário desenvolver os dramas por trás da morte de Barb,  Max  se torna a substituta de Eleven e Dr. Owens é o novo elo da família Byers com o projeto MK Ultra.

Kali, a “irmã” perdida de Eleven tem um episódio inteiro dedicado a ela (Episódio 07: The Lost Sister), ou melhor ao encontro entre elas. Com toda certeza este é o pior embuste episódio dessa temporada. Entendo a necessidade da garota de número 011 tomar um choque de realidade com os problemas do mundo real. Ela também precisava perceber que algumas cobranças feitas não são coercitivas e sim protetivas. Porém, o que vi foram 55 minutos de um cãozinho correndo atrás do próprio rabo até cansar. Completamente deslocado da proposta e até da estética dos demais capítulos, foi o momento mais cansativo da narrativa. Se a explicação de quem Kali é e o que ela se tornou fosse diluído nos episódios anteriores, a empatia seria maior.

Outras personagens rasas como piscina infantil são Bob, o namorado – mais que fofo, amigo, esperto, bonzinho que só – que quando tem a chance de ser o cara de atitude morre e, Billy, o novo bad boy (ameaça a irmã, bate nos garotos, seduz as garotas), mas no fim tá ali pra protagonizar uma briga de caras de mullets, durante os momentos de tensão no desfecho da temporada. Não precisava ser assim, o que custava dar mais cores à essas pessoas?

Além de maçante, fica explicito que em alguns momentos o roteiro foi inflado com enrolações para distanciar as soluções, de maneira que estas se rosolvam nas próximas temporadas.

Mudanças e dores

Há três situações que me agradaram nessa temporada. Uma dela são as mudanças no casal Nancy (Natalia Dyer) e Steve (Joe Kerry). Na primeira temporada eles, para mim, eram apenas dois adolescentes chatos que se achavam acima dos outros. Nesse momento, o direcionamento dado demostra que Nancy precisa de mais que status. Ela sente a falta da amiga Barb e isso dói de uma maneira que Steve não percebe. Até um certo momento ele ignora isso, o que leva o relacionamento dos dois ao fim.

A segunda situação interessante é a agressividade de Mike (Finn Wolfhard). Pode parecer em princípio que ele é apenas um garoto chato e manhoso, mas com o desenvolver da trama é esclarecido que ele está com saudades da amiga/paixão Eleven. A m aneira que ele encontra para lidar com essa ausência é o isolamento. Quando retirado de seu conforto – o acolhimento de seus amigos, alterado pela chegada da Max -, logo se transforma em um “animal selvagem”, agredindo a todos. 

A terceira, é a amizade entre o Dustin e Steve. Inesperada e com cara de redenção do adolescente babaca, essa amizade foi surpreendente e positiva para o desenvolvimento do Dustin na série. Ele finaliza de maneira mais confiante, mesmo com as adversidades da noite do baile.

Final da temporada

Os dois últimos episódios parecem recuperar o que esperávamos a temporada inteira. Bastante ágeis e emotivos, com os elementos do suspense que estiveram presentes em todos os capítulos da season anterior. De certo modo, repetitivo, o fim é sobre salvar o mundo comum do mundo invertido, sobre reforçar os laços de amizade e dar uma deixa para a próxima temporada. De tudo o que citei antes, o único fato que encaro como problema é a dependência criada com a próxima temporada. Como meu amigo, Jonatas Rueda, comentou em uma discussão recente sobre as opções que fizeram nessa temporada, uma série tem que se bastar a cada temporada. Elas devem conquistar o espectador e, contar a história proposta sem criar dependência do que virá depois, como se fosse uma maneira de cobrir os “erros”. Concordo com ele.

O “pecado” dos diretores/roteiristas foi confiarem que o inexplicável ou, o que foi abordado de maneira rasa pode – e será – recuperado numa próxima temporada. Isso não transforma essa segunda “parte” de Stranger Things em uma série ruim, ou que merece não ser vista, mas demonstra fragilidade em sua construção. Ainda bem que o elenco é cativante e a curiosidade sobre as ações do Mundo Invertido na Terra, atraentes. Aguardo a próxima temporada, ouvindo as trilha sonoras aqui.

Nota: 3/5

Yasmine Evaristo

Artista visual, desenhista, eterna estudante. Feita de mau humor, memes e pelos de gatos, ama zumbis, filmes do Tarantino e bacon. Devota da santíssima Trindade Tarkovski-Kubrick-Lynch, sempre é corrompida por qualquer filme trash ou do Nicolas Cage.

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