Crítica do Filme “A Vigilante do Amanhã: Ghost in The Shell”
- Nome: A Vigilante do Amanhã: Ghost in The Shell
- Nome Original: Ghost In The Shell
- Cor filmagem: Colorida
- Origem: Eua
- Data de lançamento: 30 de março de 2017
- Gênero: Ação, Ficção científica
- Classificação: 14
- Tempo de Duração: 107 minutos
- Direção: Rupert Sanders
- Elenco: Chin Han, Chris Obi, Joseph Naufahu, Juliette Binoche, Michael Pitt, Michael Wincott, Peter Ferdinando, Pilou Asbæk, Rila Fukushima, Scarlett Johansson, Takeshi Kitano
Em um mundo pós-2029, é bastante comum o aperfeiçoamento do corpo humano a partir de inserções tecnológicas. O ápice desta evolução é a Major Mira Killian (Scarlett Johansson), que teve seu cérebro transplantado para um corpo inteiramente construído pela Hanka Corporation. Considerada o futuro da empresa, Major logo é inserida no Section 9, um departamento da polícia local. Lá ela passa a combater o crime, sob o comando de Aramaki (Takeshi Kitano) e tendo Batou (Pilou Asbaek) como parceiro. Só que, em meio à investigação sobre o assassinato de executivos da Hanka, ela começa a perceber certas falhas em sua programação que a fazem ter vislumbres do passado quando era inteiramente humana.
A dualidade humano-máquina e a eterna busca pela essência da vida
O lançamento da semana, “A vigilante do amanhã” (Ghost In The Shell, 2017), estrelado por Scarlett Johansson e dirigido por Rupert Sanders, é baseado na obra de Masamune Shirow e nos traz num futuro distópico os projetos de aperfeiçoamento humano, especificamente a vida de Major, uma ciborgue usada como arma militar, que comanda um esquadrão de combate a crimes cibernéticos.
Neste futuro, pós 2029, permeado pelo excesso da tecnologia, há desejos de perfeição em todas as camadas da vida, desde substituição de órgãos danificados a tratamentos de beleza. Diante da idealização de um corpo humano que enfrente todas as adversidades, surge Major, uma potente máquina de guerra, com seu corpo ideal, recuperável de danos excessivos, um invólucro imortal, que possui a maior das vantagens, até então não pensada pela humanidade: uma alma (também citada, diversas vezes no decorrer da trama, como fantasma).
O fato de seu cérebro humano ser ligado a máquina, a torna o ponto máximo na evolução ciborgue-humano, pois temos a indestrutibilidade de seu revestimento (corpo-concha) e a capacidade de pensar por si (atividade cerebral, alma). Porém, mesmo diante de todas essas vantagens, há quem discorde desse projeto. Uma série de cientistas da Hankon Robotic são assassinados, e têm seus cérebros hackeados, por um hacker, que tem como objetivo destruir os projetos cibernéticos promovidos por aquele grupo. Quem é esse assassino? O que ele busca? O que a Hankon Robotic esconde? Atrás dessas respostas, Major e sua equipe, iniciam uma jornada de investigações e atividades que dão início a ação do filme.
Nos oferecendo uma ambientação fria, marcada pelo excesso visual de aspectos idealizados de beleza, mesclado com sujeira, fios soltos e muita umidade – uma quantidade de água escorre pelas paredes, empoçam no chão durante toda a trama. O clima de tensão e expectativa nos guia pela jornada de questionamentos diante do conflito constante da personagem sobre o quanto ela realmente é humana. Essas dúvidas promovem a reflexão sobre o lugar que ocupamos em meio ao desenvolvimento tecnológico. As diferentes tecnologias nos envolvem em todas as direções, desde a comida que ingerimos, até em nosso pensamento e consumo. Pode ser vista como positiva ou negativa, por facilitar nossas ações, mas também nos torna dependentes e provoca danos à sociedade. Segundo Humberto Galimberti, em Psiche e tecniche: o homem na idade da técnica, 2006:
A técnica é a essência do homem. Com o termo “técnica” entendemos tanto o universo dos meios (as tecnologias), que em seu conjunto compõem o aparato técnico, quanto a racionalidade que preside o seu emprego, em termos de funcionalidade e eficiência. Com essas características, a técnica nasceu não como expressão do “espírito” humano, mas como “remédio” à sua insuficiência biológica. (GALIMBERTI, 2006, p.9)
Esse diálogo com o público sobre aspectos da (re)evolução que vivemos é feita por meio dos diálogos entre as personagens e das dúvidas que cada um carrega em si. As indagações existentes em cada um, unida do caos externo demarcam a alienação em busca de lucro e poder, baseada em suposições do que é bom e correto. A crítica à tenuidade dos limites entre bem/mal, ou, correto/errado, em prol do desenvolvimento, indica o ponto de partida e questionamento do vilão da trama (Kuze, Michael Carmen Pitt).
A maior parte das sequências de luta, na qual temos a vigilante atuando, nos é dada de ângulos múltiplos, e reforçam as características visuais do mangá/quadrinho da obra original. O clássico balé em câmera lenta que conhecemos desde Matrix (1999) ressalta a aura tecnológica e agitada que querem nos transmitir. O uso do som (trilha e mixagem) como complemento as sequências, mescla de clássicos eruditos a mixagens contemporâneas, entoando a leveza e o aceleramento da narrativa de ação.
O filme se desdobra sem enrolação, as personagens são carismáticas (destaque pro vovô japa mais amor da vida Takeshi Kitano, sempre imponente, exalando segurança em sua passagem, como Aramaki) e há riqueza nos aspectos visuais. Em 1h e 47min o entretenimento é constante e honesto. Na finalização, a trama se encerra, e deixa a expectativa de que outra personagem seja retomada como principal, para que sejamos novamente introduzidos nesse ambiente cibernético questionável.
Referência bibliográfica: GALIMBERTTI, Humberto. Psiche e tecniche: o homem na idade da técnica. Paulus, 2006.
Escrita pela colaboradora:
Yasmine Evaristo: Mineira, Geminiana, Artista Plástica, Cinéfila e Estudante de Letras. Gosta e detesta de tudo um pouco. Ama filmes mais que chocolate, até porque odeia chocolate. Tenta ser menos ácida em suas críticas, tenta…