Crítica do Filme “Um Limite Entre Nós”
- Nome: Um Limite Entre Nós
- Nome Original: Fences
- Cor filmagem: Colorida
- Origem: Eua
- Data de lançamento: 2 de março de 2017
- Gênero: Drama
- Classificação: 13
- Tempo de Duração: 139 minutos
- Direção: Denzel Washington
- Elenco: Benjamin Donlow, Cara Clark, Cecily Lewis, Chris McCail, Christopher Mele, Denzel Washington, Dontez James, Joe Fishel, John W. Iwanonkiw, Joshua Tronoski, Jovan Adepo, Kristie Galloway, Mark Falvo, Mykelti Williamson, Russell Hornsby, Saniyya Sidney, Stephen Henderson, Toussaint Raphael Abessolo, Tra’Waan Coles, Viola Davis
Anos 1950. Troy Maxson (Denzel Washington) tem 53 anos e mora com a esposa, Rose (Viola Davis), e o filho mais novo, Cory (Jovan Adepo). Ele trabalha recolhendo lixo das ruas e batalha na empresa para que consiga migrar para o posto de motorista do caminhão de lixo. Troy sente um profundo rancor por não ter conseguido se tornar jogador profissional de baseball, devido à cor de sua pele, e por causa disto não quer que o filho siga como esportista. Isto faz com que o jovem bata de frente com o pai, já que um recrutador está prestes a ser enviado para observá-lo em jogos de futebol americano.
Esperei muito tempo para ver “Um Limite Entre Nós” e minhas expectativas estavam no céu. Um elenco primoroso que representa uma verdadeira escola de atuação; um ator sensacional arriscando na direção; Denzel e Viola reprisando papéis que lhe renderam Tonys na versão da Broadway; uma peça de um autor celebrado e premiado com um Pulitzer; um filme importante, de cor, uma história diferente a ser contada. Todos esses fatores me deixaram ansiosa e na certeza de que o filme seria bom, ótimo, favorito. Acho que essas expectativas atrapalharam um pouco o resultado final…
Quando montado na Broadway em 1987, Fences ganhou 4 Tonys, incluindo o T do EGOT de James Earl Jones, a voz mais famosa do cinema. Quando remontada em 2010, ganhou 3 Tonys, sendo um para Denzel e outro para Viola. Até então era considerada uma história fantástica, um presente para atores devido a seus diálogos longos, complexos e intensos, porém impossível de se levar ao cinema. Até que em 2005 o próprio autor, August Wilson, completou o roteiro, que caiu nas mãos de Denzel Washington para levar a um outro palco, outro público.
Wilson morreu antes de ver seu roteiro ganhar vida, mas tenho certeza que ficaria satisfeito. O poder de Um Limite entre Nós foi ainda mais intensificado e o filme ganhou ainda mais relevância e importância depois da controvérsia do ano passado, o #oscarsowhite, onde a indústria e o público criticaram a Academia pela ausência de diversidade em seus indicados. A própria presidente da Academia, Cheryl Boone Isacs, uma mulher negra, se manifestou sobre a necessidade de mudanças.
A Academia tentou: inseriu em seu quadro mais mulheres, pessoas de cor e diferentes etnias, cineastas estrangeiros. A indústria deu gás para filmes que contam uma “outra” história, algo além do que o eleitor membro da academia está acostumado: o homem branco, judeu, republicano passou a assistir histórias como Moonlight, Estrelas Além Do Tempo e Um Limite entre Nós. o favorito ainda é La La Land, por que as coisas simplesmente não mudam de um ano para outro, mas é um bom começo e um importante começo.
Sobre Um Limite entre Nós, o filme é excelente: diálogos ricos, bem escritos, bem feitos, maravilhosamente atuados. Viola Davis merecidamente vai ganhar o Oscar por este papel (embora na categoria errada, uma “fraude” de categoria que tem ficado cada vez mais comum na tentativa de garantir prêmios para os filmes – exemplo de Alicia Vikander no ano passado – e evitar derrotas traumáticas, como quando a própria Viola perdeu para a terceira estatueta de Meryl Streep), e Denzel corre sério risco de levar seu terceiro Oscar para casa. Viola, em seus discursos de agradecimento durante essa temporada de premiações, faz questão de enaltecer o roteiro de August Wilson, dizendo a importância de contar a história do “homem comum”, alguém como seu pai, seu tio, seu vizinho. Eu concordo, e essa é a beleza do filme: o homem comum, o homem de cor comum tem seu lugar, seus problemas, sua intensidade, e merece destaque. Talvez é uma história tão específica que foge um pouco do público não estadunidense. Mas mesmo assim, é um primor, denso, elaborado, e profundo.
Para mim, o grande problema do filme é a maneira que endeusaram o texto, com medo de mudar, sair do cenário, mostrar outro lado. Por que não mostrar o Baseball, a fábrica, algo além da casa? Levando a grande analogia do filme, que é a construção de uma cerca (para manter algo dentro, ou algo fora, não sabemos), ele foi montado dentro de uma cerca com o intuito de proteger a originalidade do texto e da peça. E conseguiram: a minha impressão foi de assistir uma peça, filmada diretamente do palco. Eu não assisti um filme, assisti uma sessão do teatro, onde até os diferentes atos eram perceptíveis. Foi uma adaptação tão fiel, que perdeu o ar de filme.
Sobre a direção de Denzel Washington, fiquei decepcionada. Ele realmente conseguiu tirar o melhor da Viola Davis e fez dela uma vencedora, com seu choro em forma de catarro, lágrimas, olhares e berros. Porém, sua atuação deixou a desejar. A impressão que tive é que se outro diretor estivesse lá, conseguiria fazer algo incrível com seu papel, mas ele não foi além do que está acostumado, ficou na zona de conforto. Os demais atores também sofreram um pouco, acho que foi uma falta de tato na direção. Algumas tomadas e imagens me pareceram um pouco amadoras ou literais demais, as vezes me irritando (como a rosa caindo das mãos de Rose, durante uma discussão).
Minha opinião final é de que esta é uma história fantástica, e como filme é uma ótima peça. Merece reconhecimento e prêmios, mas poderia ser muito melhor do que realmente é. Dito isso, meu resumo é o seguinte:
O Melhor: Viola Davis, em uma atuação PRINCIPAL genial, que certamente lhe renderia o Oscar de Melhor Atriz. Eu diria que hoje, dentre seus trabalhos no cinema, na televisão e no teatro, bem como seus discursos e exemplos dados, ela é a melhor atriz em atuação.
O Pior: A direção de Denzel Washington, que impediu o filme de ir de simplesmente bom para algo extraordinário.
Selo de Recomendação: Não vale a pena se o objetivo for uma noite de diversão, ou relaxamento. Agora, se você procura algo de conteúdo, uma história densa e importante, gostará desse filme.
Acabei de assistir o trailer desse filme e ainda continuo com vontade de assistir e tirar minhas conclusões! ♥
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