Resenhas

Resenha: Kafka e a marca do corvo, de Jeanette Rozsas

Capa_Kafka_Final.inddNome do Livro: Kafka e a marca do corvo
Autor(a): Jeanette Rozsas
Editora: Geração editorial
ISBN: 978-85-6150-122-8
Ano: 2009
Páginas: 184
Avaliação: 3 estr

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Biografia romanceada de Kafka – pesquisada pela a autora durante anos para se certificar de que a fidelidade histórica não sofresse o menor arranhão. E, numa parceria equilibradíssima, aliado ao cuidado da pesquisadora, sempre esteve presente o talento da prosadora. A obra de Kafka — sua linguagem protocolar, os contos fantásticos e os romances claustrofóbicos, as cartas e os diários angustiados — marcou profundamente muitas gerações de escritores. Somente uma escritora muito apaixonada por essa obra poderia realizar este cativante romance biográfico. Jeanette Rozsas é essa escritora.

 

Todos os livros conhecidos de Kafka caberiam em um único volume com pouco mais de mil páginas. As obras que interpretam Kafka encheriam uma biblioteca. Pode-se dizer que a obra conhecida de Kafka é incompleta, alguns de seus manuscritos terminam inexplicavelmente, outros podem ter sido destruídos durante a Segunda Guerra Mundial. O que persiste de sua obra ainda causa grande impacto em milhões de leitores no mundo todo, que se identificam com sua visão cáustica e estranhamente cômica. Na visão pragmática de Kafka o mundo não faz sentido, as tensões opostas avassalam o indivíduo, Kafka aborda a estática em um ambiente mutável com a mesma maestria que funde o bizarro e o cotidiano, intercalando histórias fantásticas e assombrosas em um mesmo ambiente familiar. Para começar a entender a obra de Kafka, um bom ponto de partida é conhecer sua vida. Jeanette Rozsas nos leva de volta a Praga para explorar a vida de um dos mais importantes do século XX .

Apesar de ser apresentado como uma biografia romanceada de Kafka, vi poucas diferenças para uma biografia convencional, mesmo as frases atribuídas às pessoas não são incomuns. O uso constante de datas exatas também não ajuda a criar o clima de um romance (mas sem elas o trabalho biográfico ficaria precário).

A vida de Kafka foi repleta das mesmas ironias e situações estáticas que permeavam sua obra: foi noivo de muitas mulheres, mas nunca casou oficialmente. Não era apegado à religião judaica, mesmo tendo nascido de família judia. Praticava esportes e longas caminhadas, mas foi acometido pela tuberculose. Supostamente, Kafka teve a ideia inicial para “O processo” após passar uma semana dentro de uma biblioteca.

É interminável a lista de autores influenciados direta ou indiretamente por Kafka, mas para citar alguns: Haruki Murakami (que tem um livro que se chama Kafka à beira-mar [Alfaguara, 2008]), Philip K. Dick, Jorge Luis Borges, George Orwell, além de milhares de desdobramentos em toda a cultura popular: quadrinhos, filmes, séries e jogos.

A ironia final da vida de Kafka foi a “sorte” de morrer jovem (aos 40 anos, em 1924). Não fosse isso, ele provavelmente seria perseguido e morto pelo regime nazista – como ocorreu com duas de suas irmãs. A família Kafka representava muito do que os nazistas abominavam: judeus que abandonavam suas raízes religiosas, eram ativos na sociedade e enriqueceram rapidamente na reconstrução após a Primeira Guerra Mundial.

A edição da Geração Editorial tem uma excelente capa, que não parece uma biografia. Não encontrei erros de digitação, o que é excelente. A fonte é grande, com bom espaçamento e o exemplar é muito confortável. São poucas páginas e com pouco texto em cada uma, o que torna a leitura muito agradável, capaz de fazer com que qualquer um se torne fã de Kafka imediatamente. O livro termina com algumas notas muito bem colocadas para material adicional, como o triste destino da família Kafka durante a II Guerra, o percurso de Max Brod para publicar a obra de Kafka e a ligação de uma das poucas primeiras edições de O processo com o Brasil. Senti falta apenas de uma nota sobre a autora.

Kafka e a marca do corvo não é um dos lançamentos da Geração Editorial, mas é um livro que definitivamente vale a pena ir atrás não só para os fãs de Kafka, mas para quem quer conhecer melhor o período entre a  I e a II Guerra através da vida de um dos grandes autores da literatura moderna.

Jairo Canova

Jairo Canova é Administrador e gosta de livros mais do que imagina.

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