Resenhas

Resenha: O gigante enterrado, de Kazuo Ishiguro

13722_ggNome do Livro: O gigante enterrado
Nome Original: The buried giant
Tradução: Sonia Moreira
Autor(a): Kazuo Ishiguro
ISBN: 9788535925975
Páginas: 400
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2015
Avaliação: 5++/5
Onde comprar: Compare Preços

Uma terra marcada por guerras recentes e amaldiçoada por uma misteriosa névoa do esquecimento. Uma população desnorteada diante de ameaças múltiplas. Um casal que parte numa jornada em busca do filho e no caminho terá seu amor posto à prova – será nosso sentimento forte o bastante quando já não há reminiscências da história que nos une?

Épico arturiano, o primeiro romance de Kazuo Ishiguro em uma década envereda pela fantasia e se aproxima do universo de George R. R. Martin e Tolkien, comprovando a capacidade do autor de se reinventar a cada obra. Entre a aventura fantástica e o lirismo, O gigante enterrado fala de alguns dos temas mais caros à humanidade: o amor, a guerra e a memória.

 

Desde que descobri que Neil Gaiman influenciou diretamente na publicação de Jonathan Strange e Mr. Norrell confio nas indicações dele. Em uma entrevista conjunta com Ishiguro (leia na íntegra), eles citam que O gigante enterrado não é um livro de fantasia, mas uma novela que precisava de ogros e dragões para funcionar.

Dois dos livros de Kazuo Ishiguro já foram adaptados para o cinema, os mesmos títulos lançados pela Companhia das Letras que estão atualmente esgotados: Os resíduos do dia (filme com Anthony Hopkins, a comovente história de um legítimo mordomo inglês) e Não me abandone jamais (uma história de terror disfarçada de triângulo amoroso – ou o contrário). A favor da originalidade de Ishiguro todos seus livros tem temáticas muito diferentes.

“O gigante enterrado” começa com a história de uma aldeia ocupada por bretões na Inglaterra em algum momento depois de queda de Roma, onde o casal de idosos Axl e Beatrice está sendo muito mau tratado. Perderam o direito de usar a vela e passam as noites no escuro. Além disso, faz anos que uma névoa recobre todo o país, nublando a memória dos habitantes que esquecem o que aconteceu nos últimos anos e até no dia anterior! Descontentes, ao longo de vários meses Axl e Bratrice planejam viajar para outra aldeia, onde o filho deles é uma pessoa importante e lhes dará abrigo. No caminho eles encontram diversos personagens fascinantes, entre eles um atormentado barqueiro, um velho servo do Rei Arthur, sir Gawain, que continua a importante missão dada a ele por seu rei; um corajoso guerreiro; um menino que foi mordido por um ogro e que pode ter sido amaldiçoado.

Com figuras de linguagem bem construídas, uma narrativa fácil de acompanhar e ampla em interpretações (literais e figuradas) “O gigante enterrado” é uma nova referência para o gênero. Ishiguro mescla a simplicidade e potência das ideias dos contos de fadas com um texto bem escrito, de leitura agradável.

O andamento da narrativa é diferente do convencional, segue por caminhos tortuosos e raramente o leitor conseguirá adivinhar as reviravoltas vertiginosas. O livro não segue pelos rumos esperados e todos os personagens guardam segredos – até deles mesmos. Ishiguro é um mestre em conduzir a história e a mente do leitor. Ele leva com facilidade a difícil missão de criar uma novela que é simples apenas na superfície, com interpretações nas entrelinhas fáceis de captar sem que o texto seja rebuscado.

Novamente, a edição lançada pela Companhia das Letras é excelente. A capa com textura áspera e detalhes em dourado é bem atrativa, chama muito a atenção e é de muito bom gosto (principalmente quando comparada com as capas dos livros de fantasia). Não encontrei erros de digitação, a revisão também está de parabéns. E o melhor de tudo para nós leitores brasileiros: a tradução é do mesmo ano que o texto original! Para um livro que não será adaptado para o cinema ou para a TV em breve, não é um campeão de vendas e não é uma série adolescente, admiro muito a editora por lançar esse título rapidamente. Que outras editoras sigam esse exemplo, já que infelizmente estamos acostumados a ter que esperar anos por traduções precárias.

“O gigante enterrado” tem tudo para se tornar um novo clássico, Ishiguro leva o leitor para uma jornada muito além da literatura ao reescrever mitos ancestrais sem que eles percam sua essência.

Jairo Canova

Jairo Canova é Administrador e gosta de livros mais do que imagina.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.