Resenha: Joy Division: Unknown Pleasures, de Peter Hook
Nome do Livro: Joy Division: Unknown Pleasures, A biografia definitiva da Cult Band mais influente de todos os tempo
Nome Original: Unknown Pleasures
Autor: Peter Hook
Tradução: Martha Argel e Humberto Moura Neto
Editora: Seoman
ISBN: 978-85-5503-010-9
Páginas: 392
Ano: 2014
Nota: 4/5
Onde Comprar: Direto com a editora, Livraria Cultura
A biografia definitiva da cult band mais influente de todos os tempos.
O Joy Division, desde que surgiu em 1976, mudou a cara da música. Padrinhos da atual cena alternativa, a banda reinventou o rock na era pós-punk, criando um som novo que iria influenciar artistas como U2, Morrissey, R.E.M., Radiohead e muitos outros ao redor do mundo. Este livro conta como foi a montanha-russa da história do Joy Division – as amizades e desavenças da banda, as brigas, os rompimentos; os ensaios, os shows e os personagens notáveis que constituíram uma parte vital da lenda por trás da banda -, aos olhos do seu lendário baterista, Peter Hook.
É só dar o play e começar a ler.
https://www.youtube.com/watch?v=wVvoQIdD80U
Peter Hook, baixista e membro fundador da lendária banda britânica Joy Division conta neste livro intrigante a maior parte do que lembra que aconteceu na época. Nem tudo ele lembra corretamente e admite que há filmagens provando que ele era um babaca, impressão compartilhada por boa parte dos fãs da banda. Conhecer a versão de alguém que participou ativamente do cenário da época ainda é uma experiência mais íntima e melhor do que ler um relato de um biógrafo contratado, que entrevistaria centenas de pessoas para compilar uma versão final com resultado inferior. Com senso de humor e muitos palavrões, mesmo não sendo um autor profissional, Hook consegue manter o leitor atento enquanto descreve a ascenção e queda de Ian Curtis e do Joy Division.
Tudo começou em 1977. Na época, ele e seu amigo Barney (que viria a ser o guitarrista do Joy Division e do New Order) achavam que bandas com o Led Zepellin eram deuses sobre pedestais inalcançáveis. Eles foram a um show do Sex Pistols e no local havia umas 50 pessoas, alguns dos quais no futuro participariam das bandas como The Smiths, The fall e Simply Red, além do autor Paul Morsley. Ver aqueles idiotas no palco, fazendo barulho o mais alto que podiam e com uma atitude de “f***-se” mudou a vida deles, que pensaram “isso até nós podemos fazer!”. Várias das dificuldades que enfrentaram para aprender a tocar os instrumentos e a baixa qualidade dos equipamentos acabaram se tornando características do Joy Division e são reproduzidas por outras bandas até hoje (que ironia!). Segundo Peter Hook, o primeiro álbum completo da banda, Unknwon Pleasures, foi gravado ao longo de alguns finais de semana durante a noite, quando o aluguel do estúdio era mais barato. A pressão do produtor forçava os integrantes até o limite e teve um resultado estimulante. Se fossem tentar reproduzir mais tarde, a gravação levaria anos.
Unknown Pleasures como livro é um manual para bandas underground não desistirem. Desde o primeiro disco gravado (um fracasso), os problemas com a temática nazista, a falta de dinheiro e os contratos com gravadoras que deixaram os integrantes da banda na miséria até depois do suicídio de Ian Curtis, em 1980, até o sucesso mundial que a banda alcançou nas décadas seguintes.
Este livro poderia se chamar “Ele disse que estava tudo bem, e nós fomos em frente.”, Peter Hook admite na página 308, exatamente o que eu estava pensando desde o começo da leitura, já que é uma frase que se repete muito.
Algumas contradições são evidentes, como a diversão de Peter Hook e do Joy Division em sacanear uns aos outros, outras bandas e amigos, mas quando eles eram os alvos de alguma peça, os outros que eram uns “filhos da p*”. Outras bandas de abertura deixavam os equipamentos no palco para atrapalhar a passagem de som e se apresentavam no horário da banda principal por puro despeito. De tanto reclamar, o próprio Joy Division acabou usando essa tática com outras bandas quando se irritavam.
Achei repetitiva a colocação de quatro capítulos com uma “linha do tempo” no final de cada uma das partes do livro, com datas exatas e pequenos comentários para os eventos que acabaram de ser descritos. Talvez sirva para fonte de consulta, mas é mais de material de apoio para o autor escrever a biografia do que interesse do leitor, por mais fanático que seja pela banda. Gostei bastante da análise faixa a faixa dos álbuns Unknown Pleasures e Closer. Durante a leitura ouvi ininterruptamente pelo youtube tudo o que o Joy Division gravou e facilmente encontrei nas faixas tudo aquilo que Peter Hook elogiava ou lastimava em cada uma das músicas.
Uma surpresa é o relato de que o envolvimento com drogas pesadas na época do Joy Division era menor do que se poderia esperar de uma banda de rock no final dos anos 1970. O maior problema deles era com álcool e as próprias personalidades intempestivas, que pouco mudaram até hoje.
A edição lançada pela Seoman é incrível. A capa emborrachada é agradável ao toque, a simplicidade das cores na parte externa representa bem a banda. No centro há várias fotos coloridas e documentos da época, com comentários desnecessários estilo “facebook” de Peter Hook. Nenhum erro de digitação aparente, a revisão está de parabéns.
Um bônus: o livro vem “autografado”. Na última página a editora explica que quando pediram a Peter Hook um autógrafo para reproduzir na primeira página, ele respondeu com um pequeno texto que pediu para ser traduzido para o português. A tradução ele transcreveu junto com o autógrafo que vem no livro. Digno de alguém acostumado a fazer as coisas da maneira mais difícil e que esnoba a atitude burguesa de vários músicos.
Com o passar do tempo bandas como o Joy Division entram em uma categoria privilegiada de status Cult, muitas das anedotas relacionadas ao processo de criação e ao início da banda são repetidas até a exaustão por fãs que muitas vezes nasceram depois da morte de Ian Curtis. O relato direto de Hook não destrói completamente essa imagem, mas humaniza esses baderneiros que não pensavam em mudar a música, eles só queriam um trocado para fazer o som que quisessem e se isso viesse com algumas mulheres e umas cervejas, era lucro. Creio que a maior parte das bandas contemporâneas tem muito que aprender com o Joy Division e seu marrento ex-baixista.