Resenhas

Resenha: Primavera, de Oskar Luts

primaveraNome do Livro: Primavera
Nome Original: Kevade
Autor: Oskar Luts
Tradução: Paulo Chagas de Souza
Ilustrações: Sandra Jávera
Editora: Bitura
ISBN:  978-85-7848-138-4
Páginas: 432
Ano: 2014
Nota: 3/5
Onde Comprar: Livraria Cultura, Amazon, Saraiva

Numa escola paroquial da Estônia, estuda Arno Tali, um garoto ingênuo que nutre um carinho especial pela esperta Teele Raja. Na escola, eles e seus amigos são perseguidos por um sacristão rabugento, contra quem aprontam inúmeras travessuras.
Primavera é centrado na rotina escolar dessas crianças, com os muitos conflitos e descobertas que se dão enquanto todos aguardam a chegada da estação mais esperada do ano.
Além desta divertida história, este livro traz vários aspectos da cultura estoniana e das influências herdadas da cultura russa, como lendas populares, músicas, a língua e o modo de vida no campo no início do século xx.  

Você sabe onde fica a Estônia? Até começar a ler, eu também não sabia! Vou dar uma dica: fica ao norte da Letônia. Não ajudou? Mais uma dica: a região já fez parte do Império Russo e fica ao sul da Finlânida, agora ficou fácil para achar no seu mapa. Primavera é uma tocante história de uma infância na zona rural e é tão forte na sua simplicidade que encontra ecos na minha própria vida, tantas décadas depois e dividida por milhares de quilômetros.

A primeira edição de Primavera foi lançada em 1912, sendo que o país só alcançou a independência da Rússia em 1917, mas mesmo assim já fica clara a distinção da cultura tipicamente estoniana e da russa, os mitos locais, o idioma próprio e a forma regional de pronunciar o russo. Algumas notas de rodapé (inteligentemente inseridas na margem) são úteis para dar detalhes que enriquecem a leitura sem interferir no andamento da leitura. Posteriormente, foram lançados ainda dois livros a título de continuação direta de “Primavera”, são eles respectivamente “Verão” e “Outono”, mas tendo sido escritos por pressão dos leitores da época a maioria dos comentários não é positiva, podemos ficar plenamente satisfeitos com apenas esse volume.

Na história, Arno Tali é um menino frágil, inteligente e querido por todos. Ele começa a frequentar a escola paroquial junto com sua vizinha, Teele Raja. As crianças se encontram todos os dias em uma árvore e vão juntos para a escola, povoada por diversos outros meninos, todos com características bem marcantes e as obsessões comuns da infância. Mesmo sendo um dos melhores alunos da classe, Arno também se mete em encrencas quando quer ajudar os amigos. Um dos conselheiros de Arno é o beberrão Tible, que trabalha como sineiro e é o exemplo perfeito de um filósofo errante.

As adversidades e os sentimentos novos que vão despertar nessas crianças conforme o inverno da lugar à primavera vão sendo explorados aos poucos e com grande expressividade refletida nos cenários e no comportamento de cada um. Alguns trechos são mais lentos, arrastados; frequentemente esses períodos de inatividade, comuns ao inverno, são a preparação para as encrencas que irão surgir na primavera.

“Poucos notam o cheiro da primavera, talvez ninguém, mas Arno o sentia.” (Página 262)

Entre os meninos, o mais marcante é o encrenqueiro, mentiroso e ardiloso Toots. Em minha imaginação, ele é bem semelhante ao personagem Tom Sawyer, criado pelo americano Mark Twain em 1876. Não encontrei fontes que confirmassem essa relação; provavelmente Toots simplesmente é a encarnação da criança hiper-ativa e bagunceira que encontramos a cada grupo de 20 meninos.

Apenas a ilustração da capa é colorida, senti falta de um pouco de cor nas belas ilustrações espalhadas pelo livro, se bem que algumas ficaram perfeitas em preto-e-branco. Inicialmente pensei que os desenhos fossem um pouco toscos para um trabalho profissional, mas essa semelhança com os traços infantis é completamente proposital e só destaca o trabalho da ilustradora nos cenários.

A edição da Biruta está bem traduzida, com frases muito bem montadas para fácil compreensão de leitores de qualquer idade, sem ambiguidades ou palavras complexas demais. Não encontrei erros de digitação, o que em um livro com mais de 400 páginas é um feito e tanto.

Leitura altamente recomendada tanto para aumentar o nível de dificuldade de leitura quanto para nós adultos que, com o tempo, esquecemos como eram bonitos os dias de primavera.

Jairo Canova

Jairo Canova é Administrador e gosta de livros mais do que imagina.

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