Resenhas

Resenha: Dois irmãos, por Fábio Moon, Gabriel Bá

DOIS_IRMAOS_HQ_1424095741436438SK1424095741BNome do Livro: Dois irmãos
Autor(a): Fábio Moon, Gabriel Bá
Editora: Quadrinhos na Cia
ISBN: 9788535925586
Ano: 2015
Páginas: 232
Avaliação: 5/5
Onde Comprar: Amazon

Dois Irmãos – O primeiro álbum produzido em conjunto pelos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá após o premiado Daytripper – vencedor do Eisner Award, Havey Award e Eagle Award.

Dois Irmãos é uma adaptação em quadrinhos do livro homônimo escrito por Milton Hatoum e conta a história de como se constroem as relações de identidade e diferença numa família em crise. No centro da trama, estão dois irmãos gêmeos, Yaqub e Omar, e suas relações com a mãe, o pai e a irmã, que moram em Manaus/AM.

Com um traço simples Fábio Moon e Gabriel Bá conseguem contar uma história sensível e cheia de significado, um trabalho digno dos autores premiados de Daytripper.

Não li o livro de Milton Hatoum, portanto não posso dizer quanto da sensibilidade da história e da maneira como ela nos é apresentada é mérito dos irmãos Fábio e Gabriel. Devido a um acontecimento traumático no passado, os irmãos gêmeos Yaqub e Omar são separados pelos pais. Com 13 anos Yaqub é mandado para o Líbano e Omar permanece em Manaus com os pais. Esse é o acontecimento chave para a segregação da família, de acordo com a grande importância dada a cena que gerou essa separação dos irmãos. O enquadramento da cena, a maneira como a luz incide sobre o “crime” nos passa a ideia de importância, de transgressão. Uma linha foi transposta naquele momento e nenhum dos irmãos volta atrás em sua relação.

Conforme a narrativa avança conhecemos a história dos pais de Yaqub e Omar e vemos que os problemas desses irmãos não vieram somente deles próprios e sim já dos seus pais. Com um pai que pouco os desejava e uma mãe super protetora, não há surpresa em constatar que nenhum dos filhos do casal seguiu o curso do que se considera uma vida “normal”. Há também outra personagem de grande importância para a trama, mas que passa quase como um pano de fundo na maior parte do livro, Domingas, que acolhida pela família quando criança, passa a ser praticamente uma escrava da casa. O narrador da história nos é apresentado mais tarde, e é um personagem inesperado, mas que faz muito sentido em existir. A sua origem dúbia combina muito com a história, pois toda ela é dúbia, sem que saibamos se existe realmente um irmão que tem mais culpa do que o outro ou se ambos são inocentes, sendo humanos, errando e acertando como todo mundo.

“Quando alguém morria no outro lado do mundo, era como se desaparecesse numa guerra, num naufrágio. Nossos olhos não contemplavam o morto, não havia ritual. Nada. Só um telegrama, uma carta.” 

O livro também fala sobre o isolamento dos imigrantes no Brasil. Quem vinha deixava tudo pra trás, inclusive família e muitas vezes nunca mais tinha notícias daquelas pessoas. Numa época em que telefone era coisa rara e internet não existia, a forma de contato era pessoalmente ou por carta. Para quem vivia em outro país, às vezes a única correspondência recebida era o telegrama avisando da morte de um parente. Mesmo à distância, o vínculo familiar era muito forte, apesar da dificuldade de comunicação.

A edição está com essa capa linda, bem significativa para a história, a folha é branca pois o quadrinho não é colorido e sim em preto e branco. A fonte ficou num tamanho bem confortável e a leitura flui rapidamente. A edição não tem orelhas. Não encontrei nenhum erro de revisão e a Quadrinhos na Cia, selo da Companhia das Letras, novamente está de parabéns.

A linha do tempo avança e nos mostra algumas partes da história do Brasil, como o período da ditadura. Porém o foco mesmo é a família e os demais temas estão ali só como parte ilustrativa da vida dessa família e suas relações conturbadas. O traço é simples, porém expressivo e transparece as emoções dos personagens através do desenho. Super recomendado para todos, sejam fãs da literatura brasileira quanto de quadrinhos, pois todos estão bem servidos com “Dois Irmãos”.

Franciely

É estudante de Letras por falta de melhor opção (já que não se pode ser somente estudante de literatura), leitora por prazer, amiga dos animais, viciada em internet e resenhista porque gosta de experimentar coisas novas.

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