Resenhas

Resenha: Fuja, coelhinho, fuja, por Barbara Mitchelhill

FUJAN_COELHINHON_FUJA_1413804801BNome do livro: Fuja, coelhinho, fuja
Nome original: Run, rabbit, run
Tradução: Luiz Antonio Aguiar
Autor (a): Barbara Mitchelhill
ISBN: 9788578481391
Páginas: 236
Editora: Biruta
Ano: 2014
Avaliação: 5/5
Onde Comprar: Compare Preços

 

Fuja, coelhinho, fuja, conta a história de Lizzie e Freddie. Quando o pai das crianças, William, recusa-se a lutar na Segunda Guerra Mundial, a polícia vem à sua procura. Precisam então fugir para se manterem unidos. Refugiam-se em uma comunidade chamada Whiteway. O esconderijo não dura muito tempo, e a família precisa, mais uma vez, buscar um novo refúgio. Suas opções vão ficando mais escassas e os obstáculos aumentam; a chance de continuarem juntos fica cada vez menor.

 

“Sabe como é quando a gente tem um segredo que não pode contar para ninguém?” (Pág. 9)

 

Essa obra emocionante, livremente baseada em fatos reais, é uma aula de história. O cenário inglês dos anos 1940 reproduz detalhes do dia-a-dia que são difíceis de imaginar por quem nasceu com um smartphone na mão. Boa parte da narrativa gira ao redor da incapacidade das crianças em entender a guerra e dos sacrifícios que os adultos exigem de quem deveria ser protegido.

Na Inglaterra mergulhada na Segunda Guerra Mundial, todo homem apto a ajudar o país no esforço de guerra faz sua parte – a maioria na frente de batalha, outros como suporte produzindo munições, armas e suprimentos para o exército. Mas o pai de Lizzie, William, é um pacifista convicto, contrariando as expectativas de seus conterrâneos ele se recusa a matar seus semelhantes, mesmo depois de sua esposa ter morrido em um bombardeio. A obtusidade da legislação é um dos pontos de partida da obra e fonte da maioria dos problemas que William enfrenta. Ele se apresenta diante de uma junta militar, argumentando seus ideais para tentar assumir uma função não combatente, o que é negado. Assim, fica intimado a se apresentar ao exército ou ir para a prisão. Lizzie e seu irmão, Freddie, além de perder a mãe agora tem que fugir das autoridades para que o pai não seja preso.

Inicialmente eles se escondem em Whiteway, reduto de anarquistas e párias que não aceitam o governo e fazem suas próprias regras. Entretanto, os olhos de todo o país estão vigilantes. Com a cultura militar do país a maioria das pessoas tem parentes, filhos, vizinhos, lutando na guerra e não aceitam que alguém se recuse a lutar, tomando William por covarde. Será muito difícil para eles continuarem escondidos, já que não se vê homens saudáveis andando pelas estradas da Inglaterra.

Lizzie e Freddie encontram pessoas muito diferentes em sua jornada. A maioria está disposta a ajudar as crianças; são pessoas comuns, que diante de alguém em dificuldades não hesitam em prestar auxílio. Também encontram pessoas desagradáveis (inclusive várias crianças), e ainda aqueles dispostos a usar a lei como ferramenta de crueldade. Essa versatilidade e riqueza em personagens secundários torna a obra singular quando comparada a outras novelas infantis.

Um conhecimento mínimo de história e do que estava acontecendo no mundo nos anos 1940 é essencial para compreender a amplitude do problema que Barbara Mitchelhill criou para os personagens. Além da função literária, se for feita uma pequena pesquisa histórica e contextual a leitura se torna divertida e pedagógica. É quase enganar as crianças para que elas aprendam.

A leitura me lembrou de outro clássico da literatura infantil britânica – “A longa jornada”, de Richard Adams (no Brasil lançado em 1976 pela Nova Fronteira e pela Círculo do livro, veja no Skoob, ambas estão esgotadas e são vendidas em sebos por R$2,00). No sangrento livro de Adams um grupo de coelhos foge da colina onde moravam, acreditando em uma visão profética. Durante a leitura imaginamos correlações com a sociedade humana, a guerra, os costumes e as relações entre classes. Em “Fuja, coelhinho, fuja” ocorre algo diametralmente oposto: mesmo que coelhos não sejam inseridos no contexto das crianças, as ilustrações ajudam a assimilar a situação com os apuros montados por Adams para seus animais.

A edição da Biruta é linda, característica dessa editora que sempre lança livros completos – um ótimo texto original é essencial, mas a isso somam excelentes ilustrações e revisão competente (não encontrei erros de digitação, mas talvez reclamasse da obsessão do tradutor com vírgulas).

Acredito que o projeto gráfico seja essencial para livros infantis, e nesse quesito a Biruta mostra sua excelência. As ilustrações em apenas três cores e montadas com formas geométricas (veja a capa) são extremamente simples, mas induzem facilmente o leitor ao sentimento representado naquela passagem do texto.

Após o texto, a editora incluiu um posfácio intitulado “O ideal antiguerra em Fuja, coelhinho, fuja”, do mestre e doutor em ciências políticas Rui Tavares Maluf. Ter essa pequena análise abre um pouco mais os horizontes para a compreensão de alguns rumos da narrativa e das decisões políticas e das motivações para a montagem dos personagens. Esse posfácio enriquece bastante a leitura, tendo sido escrito em linguagem bastante simples e com informações consistentes.

Quer conhecer a canção popular dos anos 1940 que dá nome ao título?

 

Jairo Canova

Jairo Canova é Administrador e gosta de livros mais do que imagina.

Um comentário sobre “Resenha: Fuja, coelhinho, fuja, por Barbara Mitchelhill

  • a historia e, muito boa mas queria ir mas alem da historia por que coelhinho fuja por que pai dela nao quer lutar fico com essa duvida na cabeca mas por que tudo isso aconteceu na guerra mundial que ano a lizzie nasceu porquecada vez continuavam menor

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