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Resenha: A noite dos mortos-vivos & A volta dos mortos-vivos, de John Russo

A_NOITE_DOS_MORTOSVIVOS_1391449619PTítulo: A noite dos mortos-vivos & A volta dos mortos-vivos
Título original: Undead: Night of the living dead & Return of the living dead
Tradutor: Lucas Magdiel
Autor:  John Russo
Páginas: 317
Ano de publicação: 2014
Editora: Darkside
Avaliação: 3/5
Onde comprar: Compare – Brochura e Capa dura

 

1968. O cinema de terror se recuperava dos horríveis filmes de monstros atômicos gigantes. Alfred Hitchcock mudara o cinema com os clássicos  Psicose (1960, também lançado pela editora Darkside) e Os Pássaros (1963). George Romero apresentou ao mundo um dos filmes que mais influenciaria o gênero nas décadas seguintes: “A noite dos mortos-vivos”. Poucos meses depois de Martin Luther King Jr. ser assassinado, Romero se supera ao escalar o ator negro Duane Jones no papel principal em um filme com forte conteúdo político (no auge da guerra do Vietnã), assumindo o comando de uma situação extrema e dando ordens veementes, além das cenas fortes que escandalizaram a sociedade puritana da época. Romero cita que o personagem havia sido criado com outro ator em mente, Rudy Ricci. Mas ao conhecer Jones até mesmo Ricci concordou que ele era o melhor ator para o papel e os roteiristas não iriam escrever novas falas só em função da cor da pele do protagonista. Fonte.

Devido a um problema com o título do filme, que era distribuído com cópias menos violentas e outro título, a película caiu em domínio público e pode ser baixada de graça legalmente em diversos sites, como esse.

Em 1995 John Russo noveliza o roteiro no texto que agora a Darkside traduz, incluindo ainda a novela “A volta dos mortos-vivos”, sequência idealizada por Russo que nunca chegou aos cinemas, escrito em 1978.

O livro em brochura lançado pela editora Darkside é excelente, com montagens bem feitas, título grande na capa e a predominância do verde, cor associada aos filmes de zumbis. A edição de capa dura pode ter seus méritos, mas a brochura também é de excelente qualidade.

Agora a resenha se separa para as duas novelas.

 

A noite dos mortos-vivos

Pessoas que morreram recentemente começam a levantar de suas sepulturas, hospitais, funerárias, carros acidentados e atacam os vivos para comerem sua carne. Todos que são mortos por essas criaturas também não se levantam e atacam novas vítimas. Para destruir esses monstros infernais é preciso destruir seu cérebro ou decapitá-los.

Bárbara visitava a sepultura do pai junto com o irmão, Johnny. Ao avistarem um homem se aproximando a passos lentos e desajeitados, não imaginavam que era a morte que os encontrava. Johnny é brutalmente assassinado e Bárbara foge desesperada em uma típica cena cinematográfica em que entra no carro e percebe que não tem as chaves – e nem fechou os vidros.

Se refugiando em uma casa de fazenda, histérica, ela encontra Ben, um negro de grande estatura que tenta reforçar a segurança da residência que também encontrou enquanto fugia de um ataque. Histérica, Bárbara não faz mais nada de útil.

No porão se escondia um casal de adolescentes, Tom e Judy, e uma família encabeçada por Harry, socorrendo a filha que sofre de febre depois de ter sido mordida por uma das criaturas.

Encurralado, o pequeno grupo tenta sobreviver a uma situação extrema e a ameaça que representam uns aos outros, tendo poucas informações pela televisão… isso até a energia elétrica acabar.

A narrativa absolutamente simples é competente para narrar a história com eficiência, mas ainda assim é mais adequada a um roteiro de cinema do que literatura. O grande trunfo é a inovação que trouxe para o gênero – até então, os zumbis apenas eram criaturas reanimadas que atacavam as pessoas com violência. A partir de “A noite dos mortos-vivos”, essas criaturas ganham características inconfundíveis que seriam copiadas até a exaustão nas décadas seguintes – o gosto por carne humana, a proliferação pela mordida, a destruição do cérebro para exterminá-los.

Exemplificando a vulnerabilidade de qualquer período crítico as primeiras vítimas fatais são exatamente o rebelde Johnny, uma idosa e uma criança. Com poucos personagens, Russo conseguiu reunir em uma sala representantes da maior parte da sociedade – a jovem aérea, o assalariado, o jovem casal, a família de classe média. As relações tensas que mantém entre si a partir de então reflete o cenário caótico da época e ainda podemos identificá-lo atualmente: a maneira como são cercados por uma horda irracional que tenta contaminá-los, a perspectiva de salvação em um governo que os abandonou. Até mesmo a forma de resgate é irônica – através de uma polícia truculenta que simplesmente elimina qualquer obstáculo, sem distinção.

A condução da história é tensa, como era de se esperar, e o final é excelente. Digno de um clássico do terror.

Minha única reclamação é o grande número de pequenos erros de digitação que escaparam da revisão, em geral uma letra errada, a falta de uma vírgula, nada que impeça a compreensão da frase, mas o suficiente para chamar a atenção.

Depois vemos algumas imagens do filme, separando as duas novelas, com excelente edição que dá o clima adequado à leitura.

 

A volta dos mortos-vivos

Dez anos se passaram desde o quase-apocalipse. Os mortos continuaram mortos e o governo preferiu esquecer o que aconteceu, apostando que nunca se repetiria.

Durante o surto narrado na novela anterior as comunidades rurais foram as mais afetadas, e frequentemente as pessoas humildes são as mais precavidas em catástrofes.

O fazendeiro Bert Miller dirige alucinadamente para um funeral com suas filhas Ann, Sue Ellen e Karen, esta última grávida de oito meses. O ponto alto da cerimônia funerária é quando os pais da criança fincam uma estaca no cérebro para prevenir que sua filha retorne, mesmo que isso não ocorra desde o surto de dez anos atrás e no resto do país ninguém faça o mesmo. Os presentes são interrompidos por um menino que presenciou um acidente com um ônibus, pegam martelos e estacas, se apressam para destruir os cérebros antes que a polícia chegue.

O xerife McClellan faz nova aparição, como o policial experiente, truculento e honesto, lidando o melhor que pode no mundo que se recupera da quase extinção. Chegando na cena do acidente com o ônibus encontram treze dos mortos com os cérebros perfurados por estacas – a polícia chegou e interrompeu o trabalho da comunidade, que fugiu. O caso ganha repercussão na mídia, e está sendo tratado como mais uma excentricidade de cidade pequena… até que apenas este treze cadáveres permanecem no necrotério, enquanto os demais se levantam e reiniciam a carnificina que a humanidade tentava esquecer.

Se na primeira novela a maior parte das mortes foi causada pelos mortos-vivos irracionais, desta vez o cenário é ainda mais aterrador: bandidos, estupradores e saqueadores se aproveitam do caos para cometer crimes impunes. Nesta brilhante sequência poucas mortes são causadas por zumbis, cabe aos humanos espalharem a morte entre si, seja por ganância, para se defender ou por engano.

Com o foco um pouco diferente do que a novela anterior, desta vez dois policiais estaduais desesperados para sobreviver buscam por justiça, e para isso seus objetivos e morais tem que se adaptar frequentemente a civilização que desaba ao redor.

Se levado ao cinema essa continuação seria mais emocionante do que “A noite dos mortos-vivos”, com mais cenas de ação e uma trama policial fácil de acompanhar. A premissa agora muda, com personagens conscientes da ameaça dos zumbis que os rodeiam, tendo que matar outros humanos para sobreviver, muitas vezes manobrando os mortos-vivos como ferramentas, por diversão ou crueldade. O pior da humanidade fica exposto enquanto as poucas esperanças de um final feliz vão sendo extintas aos poucos.

As semelhanças com o final de “A noite dos mortos-vivos“ são gritantes, bem como a influência do filme “O bebê de Rosemary” (1968). Também recicladas são algumas frases principalmente na segunda metade da novela. Considerando quase 30 anos de diferença entre as novelas é incrível que a escrita de Russo tenha evoluído pouco nesse tempo, mantendo o mesmo nível mediano.

A revisão desta segunda novela é bem melhor, não encontrei nenhum erro de digitação.

 

Terminando a leitura, satisfeito, o melhor a fazer é rever o clássico de 68 e na sequência os outros filmes de zumbis de George Romero: Despertar dos mortos (1978), Dia dos mortos (1985), Terra dos mortos (2005), Diário dos mortos (2007) e A ilha dos mortos (2009).

Bons pesadelos.

Jairo Canova

Jairo Canova é Administrador e gosta de livros mais do que imagina.

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