Resenha: Tigana – A Lâmina da Alma, de Guy Gavriel Kay
Título: Tigana – A Lâmina na Alma
Título original: Tigana
Tradutor: Carlos Daniel S. Vieira
Autor: Guy Gavriel Kay
Páginas: 326
Ano de publicação: 2013
Editora: Saída de Emergência
Avaliação: 5/5
Onde comprar: Submarino, Compare
Tigana é uma obra rara e encantadora onde mito e magia se tornam reais e entram nas nossas vidas. Esta é a história de uma nação oprimida que luta para ser livre depois de cair nas mãos de conquistadores implacáveis. É a história de um povo tão amaldiçoado pelas negras feitiçarias do rei Brandin que o próprio nome da sua bela terra não pode ser lembrado ou pronunciado. Mas anos após a devastação da sua capital, um pequeno grupo de sobreviventes, liderado pelo príncipe Alessan, inicia uma cruzada perigosa para destronar os reis despóticos que governam a Península da Palma, numa tentativa de recuperar um nome banido: Tigana. Num mundo ricamente detalhado, onde impera a violência das paixões, este épico sublime sobre um povo determinado em alcançar os seus sonhos mudou para sempre as fronteiras da fantasia.
A primeira coisa que você deve saber antes de começar a ler Tigana é: não desista no Prólogo e no primeiro capítulo. Eles são quase incompreensíveis, e só farão sentido lentamente; parecem ter sido escritos especificamente para afastar leitores pouco interessados.
A narrativa se desenvolve na península conhecida como Palma (devido ao desenho semelhante a uma mão), que foi dominada por um país vizinho, Ygrath, subjugada principalmente pelo uso de magia. Dos 9 territórios da Palma apenas Senzio não está sob domínio de Ygrath, mas para isso paga tributos. Nesse cenário de repressão conhecemos diversos personagens de várias estirpes. O primeiro é o bardo Devin, que nasceu no território conhecido como Baixa Corte (há outro chamado Corte ao norte). Devin sai da área rural e rude onde vive com irmãos grosseiros para se juntar a uma trupe de músicos andarilhos, que muda completamente o rumo de sua vida e abala suas origens.
Na estrada, Devin conhece Alessan, Catriana e Baerd, personagens que se reuniram pelo destino e suas raízes. Todos buscando o nome perdido de Tigana, que só pode ser recuperado com a anulação da magia mais poderosa que já foi lançada.
Outro núcleo da narrativa é o centro de poder de dois magos: Brandin, que controla os territórios ocidentais da Palma, e Alberico, que controla os territórios orientais. Ambos são correspondentes enviados por Ygrath, que participaram da guerra que subjugou a Palma e agora governam seus territórios. Muito diferentes entre si em personalidades e atitudes, Alberico é um verdadeiro tirano inescrupuloso, que ordena execuções sem arrependimentos. Já Brandin é um dos personagens mais cativantes da obra, mesmo conhecendo a extensão de sua ira, ainda sim é possível considerar suas motivações justificáveis, dando contornos humanos e profundidade emocional ao personagem mais odiado da trama. Conhecemos ainda Dianora, escolhida como concubina para ser um dos “tributos” a serem pagos anualmente ao tirano Brandin. Entretanto, desde o começo o plano de Dianora era ser se aproximar de Brandin e conseguir a vingança que seu povo deseja.
Tigana é uma obra complexa, que raramente se limita às descrições superficiais, com uma narrativa envolvente que sempre enriquece os personagens para que possamos entendê-los, e não apenas acompanhar suas ações. Seu trunfo é a inversão de papéis entre heróis e vilões: não há uma distinção clara entre eles. Mesmo Brandin pode ser visto como uma vítima das circunstâncias; Alessan, que supostamente deveria ser o herói, faria qualquer sacrifício por seus objetivos. Tigana é uma história sobre a luta entre o orgulho e a paixão, e o que estamos dispostos a perder para recuperar algo que é nosso direito.
Admito: alguns anos atrás (este livro é de 1991, parabéns a Saída de Emergência pela iniciativa) comecei a ler Tigana no original e desisti depois de alguns capítulos. Não que o texto seja ruim, mas a imensa complexidade gramatical que meu inglês básico/intermediário da época não suportou. Terminando de ler esse volume me arrependo de ter passado adiante meu exemplar na época.
A edição da Saída de Emergência é excelente, seguindo o mesmo padrão dos outros lançamentos até agora, com páginas amareladas confortáveis, fonte de bom tamanho e espaçamento, revisão impecável e os essenciais mapas na parte interna da capa e ao longo do livro. A imagem usada na capa poderia ser melhor, ainda mais quando comparada a outras capas de Tigana, mas a imagem do segundo volume já é bem melhor:
Leitura obrigatória para os fãs da literatura fantástica, Tigana eleva novamente nossos padrões do gênero em uma narrativa intrincada e apaixonante, com personagens marcantes e tão complexos quanto o mundo em que vivem.
O segundo volume (não é uma série e sim um livro que foi dividido em duas partes) terá o subtítulo “A Voz da Vingança” e foi lançado em 24 de abril. Este primeiro volume foi resenhado com cópia comprada, esperamos que mês que vem nossa parceira envie o segundo volume para resenha, senão vou ter que comprar também o segundo livro, porque não vai dar para ficar sem saber como Tigana termina! Assim como em “Mago – Mestre” por bom senso não li o capítulo do livro seguinte que a editora disponibiliza ao final do texto, espero que isso reduza meu sofrimento enquanto espero.