7 livros de Fantasia que gostaríamos de ver no Brasil
Por Jairo Canova
Olá, leitores!
Para nossa sorte o mercado editorial no Brasil evoluiu bastante e agora quase todos os livros que fazem sucesso, e até alguns que nunca ouvimos falar, são traduzidos e lançados rapidamente. Em alguns casos os lançamentos são até simultâneos ou com pouco tempo de diferença. Mas e os livros mais antigos?
Elaboramos uma lista com 7 excelentes livros de fantasia que nunca chegaram ao Brasil.
Alguns livros que não estão nessa lista por pouco:
– T.H. White – O único e eterno rei (série de 5 livros). Lançado entre 1938 e 1977 só foi lançado no Brasil em 2013. É considerada uma das melhores obras sobre a lenda Arthuriana, talvez melhor que “As brumas de Avalon”.
– George R. R. Martin – As crônicas de gelo e fogo (série que deverá ter 7 livros, 5 já lançados). Com o primeiro volume lançado em 1996, cada novo livro entrava para a lista dos mais vendidos do New York Times. Só com o anúncio da série de tv da HBO os livros começaram a ser lançados no Brasil em 2010.
– Robert Jordan – A roda do tempo (série de 14 livros, os últimos 3 escritos também por Brandon Sanderson). Publicado a partir de 1990 e previsto para ser uma série de 6 livros, foram ampliados até a morte do autor em 2007 quando escrevia a 12ª parte que deveria ser a última, “The gathering storm”. A editora contratou Brandon Sanderson que assumiu as notas de Jordan e resolveu escrever mais dois livros, concluindo finalmente a saga em 2013. No Brasil o primeiro volume, “O olho do mundo”, foi publicado em 2013. Talvez a Intrínseca estivesse esperando para ver se a série realmente ia terminar no 14º livro ou se Brandon Sanderson decidiria escrever mais 12? Esperamos que o tempo total de lançamentos dos 14 livros em português seja menor do que o dos originais.
Agora sim, os 7 livros de fantasia que gostaríamos de ver traduzidos:
#7 – Peter S. Beagle – The last unicorn
Tradução Livre: O último unicórnio
Essa novela de 1968 já vendeu mais de 5 milhões de cópias em todo mundo e foi traduzida para 20 idiomas (mas não para o português do Brasil).
Conta a história de uma fêmea unicórnio que descobre que pode ser a última de sua espécie. Ela então viaja pelo mundo a procura de respostas, conversando com diversas criaturas reais e fantásticas.
#6 – Terry Pratchett – Small Gods
Tradução livre: Deuses menores
13ª novela da famosa série Discworld. Originalmente lançado em 1992, um ano depois de “Quando as bruxas viajam” (que no Brasil foi publicado em 2008 pela Conrad- desde então a Conrad parou com os lançamentos, limitando-se a reimpressões).
Na trama, o noviço Brutha encontra a manifestação da divindade Om. O problema é que Om tem a forma de uma pequena tartaruga e nenhum poder divino. Logo Brutha é convocado pelo chefe da Quisição para ir a Ephebe, país que cultua Om acima de todos os deuses, em uma missão diplomática. Para Brutha fica claro que Om não tem nenhum seguidor, todos em Ephebe o adoram por medo da prisão ou por hábito.
Essa é uma das novelas em que Terry Pratchett faz mais sátiras religiosas, principalmente das grandes instituições.
Atualmente a série discworld está na 40ª novela, Raising steam, de 2007(que aborda a criação dos trens a vapor em Ankh-Morpork), e não deve ir muito adiante depois que o autor teve diagnóstico de Alzheimer em 2007.
#5 – James Branch Cabell – Jurgen, A Comedy of Justice
Tradução livre: Jurgen, uma comédia da justiça
Publicado em 1919, foi catapultado ao sucesso em 1920 quando a “Sociedade de supressão ao vício” entrou com processo por obscenidade e as placas de impressão foram recolhidas. Depois de dois anos de lutas no tribunal o livro foi liberado com o argumento de que “todas passagens supostamente obscenas tem dupla interpretação”.
O livro faz paródias sexuais de várias lendas e histórias conhecidas. O personagem principal, Jurgen, viaja no cosmos usando seu encanto e etiqueta de cavalaria para conquistar as mais diversas mulheres do universo: a Rainha Guinevere da lenda Arthuriana e até a esposa do Diabo.
Em 1926 foi lançada uma edição revisada em que o personagem é preso por filisteus e o procurador do processo é um imenso besouro rola-bosta. Em outro livro do autor ele agradece a “Sociedade de supressão ao vício” pelo grande impulso na carreira.
O estilo da narrativa já nos parece ultrapassado, em parte se deve ao tom propositalmente pomposo como parte da sátira, mas se em quase 100 anos nenhuma editora nacional traduziu o texto não é o autor quem deve ser culpado.
Um dos poucos parodiados a elogiar o livro foi Aleister Crowley, que teve seu “Faça o que quiser pois há de ser da Lei” transformado em “Não há lei em Cocaigne a não ser, faça o que achar melhor”.
O texto original de “Jurgen” está em domínio público e pode ser acessado no site do Projeto Gutenbeg. Os outros livros do autor você vê aqui.
#4 – Mervyn Peake – The Gormenghast Series
Tradução livre: Série Gormenghast – Titus Groan; Gormenghast; Titus sozinho
Publicada entre 1946 e 1959 essa série é o pior pesadelo de qualquer leitor. Previsto para serem cinco livros, o autor morreu após a conclusão do terceiro. Os outros foram intitulados inicialmente como “Titus acorda” e “Gormenghast revisitada”. Com a morte prematura, apenas três páginas coerentes foram escritas para os dois últimos livros, e diversas anotações que foram usadas pela esposa, Meave Gilmore, para escrever mais um volume, que não teve o mesmo impacto.
O cenário do primeiro volume é o ancestral castelo de Gormenghast, quase abandonado e de amplos corredores, lar de centenas de criados e membros menores da monarquia. Com milhares de rituais e cerimônias esquecidos no tempo, as descrições do abandono do castelo são mais detalhadas que as rivalidades e conspirações criadas entre os personagens para obter pequenas vantagens. O livro aborda o nascimento de Titus Groan, 77º herdeiro da linhagem dos Groan, um número auspicioso. Entretanto, o recém-nascido já mostra que as mudanças serão maiores do que os estagnados moradores imaginam.
O segundo volume acompanha Titus dos sete aos dezessete anos e seu profundo ódio aos rituais sem sentido. Três eventos fundamentais na jornada de Titus o preparam para finalmente abandonar o castelo.
E finalmente no terceiro volume: depois de longa jornada Titus chega a uma cidade avançada, no início da era industrial (que muitos atribuem características do steampunk). Neste ponto a história se torna mais irregular, o enredo e o andamento da trama ficam mais confusos, talvez antecipando as dificuldades que o autor teve em combater o mal de Parkinson.
Nos dois volumes finais, por conclusões não oficiais das notas do autor, algum evento deveria levar Titus de volta a Gormenghast com o conhecimento das mudanças que ocorreram no mundo.
Mesmo sendo uma obra incompleta seu valor literário ainda é muito grande, com forte simbolismo, uma narrativa marcante e descrições fantásticas.
Vale lembrar que outros grandes livros foram lançados de forma incompleta e são considerados obras grandiosas, um deles é “Almas mortas”, de Nikolai Gogol. Assim como o grande Franz Kafka não concluiu “Amerika”, e ainda se discute se alguns capítulos de “O processo” foram publicados na ordem correta.
#3 – Haruki Murakami – Sekai no owari to Hādo-boirudo Wandārando
Tradução livre: Outro país das Maravilhas e o fim do mundo
Publicado no Japão originalmente em 1985 e traduzido para o inglês a partir de 1991 o livro apresenta capítulos alternados de duas histórias surreais e imaginativas.
Nos capítulos de número ímpar o narrador trabalha como um “calcutec” e realiza tarefas inconscientes de encriptação, o qual ele apenas conhece o método; o objetivo do trabalho que realiza, ou o que está sendo decodificado, é um mistério.
Nos capítulos pares temos um cenário surreal de um personagem chegando a um vilarejo completamente isolado, rodeado por florestas e cercado por uma muralha intransponível. Para entrar ele é informado que deverá se livrar de sua sombra, e com uma faca o porteiro lhe fura os olhos. A partir de então sua única tarefa é ler sonhos antigos, extraídos dos crânios de unicórnios (guardados na biblioteca).
É meu livro favorito do Murakami e sinceramente espero vê-lo no Brasil. Mandei mensagens para a editora Alfaguara, que já lançou vários livros do autor, mas ainda não tive resposta.
#2 – Gene Wolfe – The wizard Knight
Tradução livre: O mago cavaleiro
Publicado em 2004 como dois livros – The wizard e The Knight – logo foram lançados em um volume único com 920 páginas.
A história acompanha Able (nome que é dado a ele), um jovem americano que é levado para um reino de fantasia onde ganha o corpo de um homem com habilidades heroicas e deve procurar uma espada destinada a ele e que está sendo guardada por um dragão. Como em muitas outras novelas de Wolfe esta também é escrita em primeira pessoa, onde o narrador conta os eventos de maneira peculiar, frequentemente fora de ordem, com omissões ou aparentes exageros. Mesmo tendo sido escrito tendo em vista o público adolescente, diversos leitores fazem questão de apontar que a obra não perdeu as características do autor e que sua leitura pode ser difícil, mas recompensadora.
A obra mais conhecida de Gene Wolfe é a série “The book of the new sun” (tradução livre: O livro do novo Sol) composta de quatro novelas que acompanham o torturador Severian em um cenário futurista em que o sol está diminuindo seu calor e a Terra, esfriando. Escrita dessa forma a narrativa parece simples o bastante, mas a habilidade literária de Gene Wolfe leva o leitor por caminhos tortuosos e, as vezes, insondáveis. O intenso uso de alegorias e simbologias dá significados mais profundos a cada frase, e uma leitura desatenta leva inexoravelmente ao fracasso. Técnica semelhante é aplicada em vários trechos de “The wizard Knight”.
#1 – William Morris – The well at the world’s end
Tradução livre: O poço no fim do mundo
Publicado em 1896, este livro está no topo da lista para que os leitores brasileiros experimentem um pouco da origem das novelas de fantasia. Com o imenso volume de obras contemporâneas que são lançadas todos os meses, é incrível que uma das obras fundamentais do gênero tenha sido esquecida por quase 120 anos.
São poucos os autores que receberam elogios de H.P. Lovecraft, H.G. Wells, J.R.R. Tolkien e C.S. Lewis. Estes dois últimos tiveram suas obras profundamente inspiradas nos textos de Morris: em “The well at the world’s end” há um personagem chamado Gandolf e um cavalo chamado Silverfax (o cavalo de Gandalf em Senhor dos Anéis é Shadowfax).
“The well at the world’s end” tem formato semelhante aos contos de fadas medievais, a única referência disponível para histórias de fantasia na época. Entretanto, a longa narrativa, usando características literárias de outros gêneros, deu contornos únicos à história, incentivando a exploração de mundos fantásticos de forma mais séria nas décadas seguintes. A William Morris cabe a ideia de unir mundos de imaginação, elementos sobrenaturais e escrita de romances medievais, usada até hoje.
O livro conta a história de Ralph de Upmeads, quarto filho do monarca de um pequeno reino, que decide se tornar um cavaleiro e descobrir as maravilhas do mundo. Entre elas, o poço no fim do mundo, uma fonte mítica que dá quase-imortalidade e um destino formidável a quem beber sua água. Para chegar a esse local maravilhoso é preciso atravessar a “parede do mundo”, uma enorme cadeia de montanhas repleta de desafios. Nessa jornada com muitos conflitos mundanos e sobrenaturais, Ralph encontra e abandona diversos companheiros de viagem antes de alcançar seu objetivo.
O texto original de “The well at the world’s end” está em domínio público e pode ser acessado no site do Projeto Gutenbeg. Os outros livros do autor você vê aqui.
E vocês, que livros de fantasia gostariam de ver no Brasil?